HISTÓRIA Nº. 116
“Agora
sei: sou só. Eu e a minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade
da solidão.”
- Clarice
Lispector
Restava ainda alguma ingenuidade.
Restava, disse bem, porque já não resta. Sentia-lhe já alguma fragilidade, mas entendeu
conceder-lhe o benefício da dúvida. Durou, por isso, muito tempo, até mais do
que determinadas idades consentem. Costuma esgotar-se bem mais cedo, normalmente
na fase da vida em que se desperta do sonho e se encara a dura realidade. Mas o
Alemão, contrariando a sua propensão pessimista, prolongou-lhe a vida, acreditando
na pureza e consequente longevidade da nobreza de sentimentos que sempre tanto admirou.
Tudo isto para dizer, definitivamente: “agora sei, sou só!”
Surpreende, certamente, o conteúdo do
parágrafo anterior. Como quase sempre, intencionalmente pouco claro, deixa,
todavia, entreaberta a porta reveladora pelo menos do ajustamento
comportamental que ao Alemão faltava e que o tempo vivido há muito
aconselha. “A gente cansa de tentar… de querer… de acreditar… aí chega um
dia, que a gente finalmente cansa… de cansar!!!” - Maria Aparecia Francisquini.
Em dezembro de 2022, na História nº.
84, já explorava o tema: “A desumanização a que chegou a relação entre os
homens, o impune espezinhamento dos valores morais sobre os quais tantos ergueram
a sua vida e que agora assistem ao seu desmoronamento, a prática do “vale-tudo”
no dia a dia onde solidariedade, honestidade, lealdade, respeito e verdade são
agora, e já de algum tempo, meras palavras, deixam o Alemão em estado de
desalento: o mundo está mesmo em destravada decadência… Há uma espécie de
cansaço a sugerir adequado repouso. Por um tempo, por todo o tempo?...”
Na prática, que se veja, nada muda. Ocorre,
sim, uma arrumação interior que pacifique o que ainda for a tempo de o ser. A agitação
e agressividade do dia a dia num mundo em constante desassossego, a perda
irrecuperável de valores tão ricos desde há muito transmitidos por homens simples,
mas sãos, o desrespeito pelo sofrimento do próximo, tornam a vida pouco menos
que suportável.
Não se trata de nenhuma desistência,
mas sim de um reposicionamento pessoal que os amigos, os bons amigos, não
deixarão de compreender. “Aliás – descubro eu agora - eu também não faço a
menor falta, e até o que escrevo um outro escreveria.” – Clarice Lispector.
Mas, apesar de tudo isto, o Alemão
vai continuar por aí!...
“Olhei uma
foto minha e senti saudade do meu tempo de ingenuidade, saudade do tempo que eu
acreditava cegamente nas pessoas.”
-Glauber Arikener
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