sexta-feira, 24 de maio de 2024



HISTÓRIA Nº. 117

 

 

“Faz de conta que a vida é perfeita, que tudo é possível, que o mundo conspira só a favor do bem;

Que as lágrimas são doces, que os arranhões são confetes, que a tristeza não machuca;

Que a dor foi embora, que o riso agora chegou para ficar.

Faz de conta…”

- Marina Rotty

 

Bonito amanhecer. Céu limpo, sol radioso, temperatura um pouco mais que amena. O bom tempo terá vindo para ficar. O passeio matinal pelas ruas envolventes, mais a inevitável incursão pelo fervilhante e estrangeirado Mercado do Bolhão (novo), deram-lhe um ânimo de que já se não lembrava há muito. Só terá faltado o reencontro com algum amigo – pelo passado, muitos pisavam aquelas paragens - e a troca de saudações que, mais do que cortesia, eram dádivas recíprocas de uma paz autêntica, duradoura. Eram dádivas de amor!...

 

Chegado a casa, contabilizou os passos dados, calculou a distância percorrida e as calorias queimadas. Já obteve melhores resultados, mas este “passeio higiénico”, mais do que pelos efeitos terapêuticos sempre de considerar, valeu pela recordação de quem, por muitos anos, naquele espaço mercantil, consumiu a maior parte das suas vidas. Para o Alemão, então adolescente, visitar o Bolhão era adentrar numa espécie de recinto sagrado onde gente simples, boa, generosa, honesta, procurava ganhar o pão de cada dia. Ao fundo da escada principal, lá estava sempre a imponente e vigorosa Emília Peixeira de cujos abraços o Alemão fugia, nem sempre com sucesso; um pouco mais ao lado, a mobilizadora Maria Cachopa e as suas verduras, as melhores de todas as que por ali se vendiam; mais à frente, num dos corredores laterais, a Laurinha de Avintes e a sua broa inconfundível…

 

A pequena jornada que acabou de descrever fê-lo esquecer, ou, pelo menos, não lhe permitiu lembrar as lágrimas, os arranhões, as tristezas, as dores. Talvez outros percursos, outros lugares, perto ou longe, o ajudem a apagar (esquecer será possível?!...) as lembranças que lhe têm marcado duramente a existência nestes últimos anos. Há que descobrir! Apesar de tudo, acredita que, “embora o mundo esteja estranho, em algum lugar ainda existe amor” - autor desconhecido.  

 

“Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens.”

- Fernando Pessoa




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