HISTÓRIA Nº. 117
“Faz de conta que a vida é perfeita,
que tudo é possível, que o mundo conspira só a favor do bem;
Que as lágrimas são doces, que os
arranhões são confetes, que a tristeza não machuca;
Que a dor foi embora, que o riso
agora chegou para ficar.
Faz de conta…”
- Marina Rotty
Bonito amanhecer. Céu limpo, sol
radioso, temperatura um pouco mais que amena. O bom tempo terá vindo para ficar.
O passeio matinal pelas ruas envolventes, mais a inevitável incursão pelo fervilhante
e estrangeirado Mercado do Bolhão (novo), deram-lhe um ânimo de que já se
não lembrava há muito. Só terá faltado o reencontro com algum amigo – pelo
passado, muitos pisavam aquelas paragens - e a troca de saudações que, mais do
que cortesia, eram dádivas recíprocas de uma paz autêntica, duradoura. Eram
dádivas de amor!...
Chegado a casa, contabilizou os
passos dados, calculou a distância percorrida e as calorias queimadas. Já
obteve melhores resultados, mas este “passeio higiénico”, mais do que
pelos efeitos terapêuticos sempre de considerar, valeu pela recordação de quem,
por muitos anos, naquele espaço mercantil, consumiu a maior parte das suas vidas.
Para o Alemão, então adolescente, visitar o Bolhão era adentrar numa
espécie de recinto sagrado onde gente simples, boa, generosa, honesta,
procurava ganhar o pão de cada dia. Ao fundo da escada principal, lá estava
sempre a imponente e vigorosa Emília Peixeira de cujos abraços o Alemão fugia,
nem sempre com sucesso; um pouco mais ao lado, a mobilizadora Maria Cachopa e
as suas verduras, as melhores de todas as que por ali se vendiam; mais à
frente, num dos corredores laterais, a Laurinha de Avintes e a sua broa
inconfundível…
A pequena jornada que acabou de
descrever fê-lo esquecer, ou, pelo menos, não lhe permitiu lembrar as
lágrimas, os arranhões, as tristezas, as dores. Talvez outros percursos,
outros lugares, perto ou longe, o ajudem a apagar (esquecer será possível?!...)
as lembranças que lhe têm marcado duramente a existência nestes últimos
anos. Há que descobrir! Apesar de tudo, acredita que, “embora o mundo esteja
estranho, em algum lugar ainda existe amor” - autor desconhecido.
“Tenho
pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova
luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos
homens.”
- Fernando
Pessoa
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