HISTÓRIA Nº. 106
“Os outros nunca sentem,
Quem sente somos nós,
Sim, todos nós,
Até eu, que neste momento já não
estou sentindo nada.
Nada? Não sei…
Um nada que dói…”
Fernando Pessoa
Anda por aí, gastando os seus dias. Lançando
um olhar vago sobre a zona envolvente, é capaz ainda de perceber com
clareza algumas práticas propositadamente ocultadas aos seus olhos. Condescende,
silenciando muitas vezes, mas não ignora o que vê…
O Alemão tem percebido
ultimamente a acentuação do seu lado pessimista e o que vê diminui-lhe a
vontade de falar. “E o que não posso e não quero exprimir fica sendo o mais
secreto dos meus segredos” - Clarice Lispector.
Sente no ar uma certa loucura que despreza
assumidamente o bom senso. Outros tempos, diz-se. Usa-se e abusa-se de um emproado
e superior individualismo. Falam-se palavras que nenhuma balança pesa, dardos
perversos impunemente lançados sobre o outro. Utilizam-se olhares
sobranceiros, altivezes praticadas sem qualquer legitimidade. Assumem-se incompreensíveis
e censuráveis vaidades que projetam os convencidos a grandes alturas e isolam
cada vez mais os “outros que nunca sentem”. Na verdade, os outros nunca
sentem!...
A sociedade já não acolhe, repele.
As portas que se abriam ao primeiro toque, já não atendem. As mãos
que se estendiam abertas mesmo a quem não pedia, estão agora encolhidas. Os
rostos que sorriam de bondade e ternura, estão agora tristes. Os corações
que derramavam nobres sentimentos, estão agora fechados. O mundo desmorona-se!...
Mesmo assim, envergonhado pelo seu
pessimismo, o Alemão dobra-se humilde e reverente perante o vigor da oração
de Habacuque “… ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o
produto da oliveira minta, e as campos não produzam mantimento; as ovelhas da
malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas: todavia eu me
alegrarei no Senhor: exultarei no Deus da minha salvação” – Bíblia Sagrada.
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