HISTÓRIA Nº. 107
Há muito a fazer…
“Catar os cacos do caos, como quem cata no deserto
o cacto - como se fosse flor.
Catar os restos e ossos da utopia, como de porta em porta
o lixeiro apanha detritos da festa fria e pobre no crepúsculo
se
aquece na fogueira erguida com os destroços do dia.”
Affonso
Romano SantAnna
O Inverno tem-no retido um pouco mais por
casa, onde gosta de estar, confessa. A chuva e o frio aconselham cautelas, mais
do que noutros tempos: é que o Alemão já não é criança. Entretanto, vai
espreitando o aparecimento de melhores condições climatéricas, para retomar as
suas caminhadas higiénicas, que o levam habitualmente aos mesmos lugares, nos
quais, sempre que os visita e mesmo sem parar, encontra motivos despertadores
de alegrias adormecidas nos braços do tempo. E sempre que isto acontece,
recorda, inevitavelmente, um pequeno texto de Neemias, inúmeras vezes
recitado em criança e na adolescência e cujo resultado confirma: “… não vos
entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa força.”
O cinzentismo do dia, ainda que entrecortado,
de vez em quando, por uns tímidos raios de sol, aliado à clausura doméstica
forçada, convidou-o à leitura e à meditação. Da primeira, de um livro que
distraidamente desfolhou, recolheu, com a devida vénia, a poesia de abertura
que serve de inspiração maior a este despretensioso texto. Da segunda,
recuperou uma expressão que repetiu vezes sem conta a propósito da desgraça que
atingiu o mundo há quatro anos: “… depois, haverá muitos cacos para
apanhar!” – Alemão. Tarefa difícil e cansativa, desmotivadora até, por um
lado, pelo caos provocado por tantos pedaços não identificados em que tudo se
transformou, por outro, pelo surgimento de quem, intencionalmente, em vez de
juntar, mais espalhou. Trabalho inglório.
De repente, porém, já com o sol mais
persistente, uma mensagem que o acaso não prevê. Uma voz doce e amiga
cantava uma melodia conhecida e cuja letra falava em “fúria das águas”,
“fogo que não queima”, “fiel proteção”, “estar abrigado”,
“amor que não se pode exprimir” … Fiel Salvador!
Ao trabalho, que há muito a fazer! “Vou
juntar os cacos, costurar os pedaços e seguir em frente. Porque é a coisa certa
a ser feita.” – Clarisse Corrêa
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