sexta-feira, 5 de janeiro de 2024


HISTÓRIA Nº. 107

 

 

Há muito a fazer…

 

 

“Catar os cacos do caos, como quem cata no deserto 

o cacto - como se fosse flor. 

Catar os restos e ossos da utopia, como de porta em porta 

o lixeiro apanha detritos da festa fria e pobre no crepúsculo 

 se aquece na fogueira erguida com os destroços do dia.”

 

 Affonso Romano SantAnna

 

 

O Inverno tem-no retido um pouco mais por casa, onde gosta de estar, confessa. A chuva e o frio aconselham cautelas, mais do que noutros tempos: é que o Alemão já não é criança. Entretanto, vai espreitando o aparecimento de melhores condições climatéricas, para retomar as suas caminhadas higiénicas, que o levam habitualmente aos mesmos lugares, nos quais, sempre que os visita e mesmo sem parar, encontra motivos despertadores de alegrias adormecidas nos braços do tempo. E sempre que isto acontece, recorda, inevitavelmente, um pequeno texto de Neemias, inúmeras vezes recitado em criança e na adolescência e cujo resultado confirma: “… não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa força.” 

 

O cinzentismo do dia, ainda que entrecortado, de vez em quando, por uns tímidos raios de sol, aliado à clausura doméstica forçada, convidou-o à leitura e à meditação. Da primeira, de um livro que distraidamente desfolhou, recolheu, com a devida vénia, a poesia de abertura que serve de inspiração maior a este despretensioso texto. Da segunda, recuperou uma expressão que repetiu vezes sem conta a propósito da desgraça que atingiu o mundo há quatro anos: “… depois, haverá muitos cacos para apanhar!” – Alemão. Tarefa difícil e cansativa, desmotivadora até, por um lado, pelo caos provocado por tantos pedaços não identificados em que tudo se transformou, por outro, pelo surgimento de quem, intencionalmente, em vez de juntar, mais espalhou. Trabalho inglório.

 

De repente, porém, já com o sol mais persistente, uma mensagem que o acaso não prevê. Uma voz doce e amiga cantava uma melodia conhecida e cuja letra falava em “fúria das águas”, “fogo que não queima”, “fiel proteção”, “estar abrigado”, “amor que não se pode exprimir” … Fiel Salvador!

 

Ao trabalho, que há muito a fazer! “Vou juntar os cacos, costurar os pedaços e seguir em frente. Porque é a coisa certa a ser feita.” – Clarisse Corrêa

 



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