HISTÓRIA Nº. 108
A Casa, os Livros e o Chá para os Fantasmas
“Antes, todos os caminhos iam;
Agora, todos os caminhos vêm.
A casa é acolhedora, os livros
poucos.
E eu mesmo preparo o chá para os
fantasmas.”
- Mário Quintana, in “Sapato Florido”
A Casa - A vontade de sair já não é a mesma.
Quando sai, de longe a longe, leva consigo a vontade de voltar o mais rapidamente
possível. O entardecer da vida prende-o gostosamente ao seu canto, ao lugar
marcado que habitualmente o acolhe e tem já, naturalmente, a forma do seu ser. Quatro
simples e invisíveis paredes levantadas com carinho. Casa ideal construída na
luta de cada dia, segundo um projeto elaborado por quem sabia o que era melhor
para si. Alguém que nunca lhe faltou com o Seu apoio na dura edificação do esconderijo
em que o Alemão se refugia e se sente bem seguro, distante de olhares perversos,
por isso mesmo dispensáveis!...
Os Livros - Folheia distraidamente alguns dos
livros que tem arrumados na velha estante do seu escritório, onde
conserva religiosamente, também, velhos retratos a preto e branco, evocativos
de gente sincera, sofrida mas sorridente, e que sustenta inapagáveis histórias de
vida que a eternidade lembrará... Do que lê, retém um ou outro apontamento que,
entretanto, lhe chama mais a atenção e que por vezes reproduz. Ainda hoje decorou,
sem esforço, que “a sinceridade é mais bela do que a própria beleza” –
Fabrício Fiúza. O conforto da sua existência descobriu-o na simplicidade
que “dá muito trabalho” – Clarice Lispector. Sempre ao ritmo de “basta
a cada dia o seu mal” – Bíblia Sagrada, máxima aceite e aplicada desde há
muito ao seu quotidiano, o Alemão vai cumprindo calma e controladamente
o seu destino, sobrevivendo teimosamente ao desmoronamento deste mundo, cada vez
mais desinteressante. Justamente ressalva, porém, a presença de um ou
outro amigo que, definido por Alexandre O´Neill, “é a solidão derrotada!”.
O Chá para os Fantasmas - Na hora do chá, “só quero um cantinho para escrever, falar comigo mesmo e relembrar sentimentos” – Fabrício Fiúza. O passado é uma das suas maiores riquezas e recordá-lo um dos seus maiores prazeres!...
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