HISTÓRIA Nº. 105
“- Não é triste? perguntou. Você não
se sente só?
(…) sorriu forte: - A gente
acostuma.”
Caio Fernando Abreu
Antes do mais, perdoem-lhe o
pessimismo!
Amar a paz implica,
normalmente, a procura de lugares pouco frequentados, preferencialmente desertos. O dia a dia em sociedade tornou-se desinteressante. A inevitável exposição de cada
um, por mais discreta que seja, alimenta histórias, na sua maioria
perversas, que cada vez mais afastam as pessoas entre si. A tão apreciada
intriga pulula por todo o lado, até onde seria impensável encontrá-la. “Porque
a todos é concedido ver, mas a poucos é dado perceber. Todos veem o que tu
aparentas ser, poucos percebem aquilo que tu és.” – Nicolau Maquiavel.
Nos muitos anos que leva de vida, o Alemão
nunca viu nada assim. Verdadeiramente espantado, assiste atualmente ao desfile
contínuo e aparentemente inesgotável de tanto conhecimento sobre a vida do “outro”.
E pergunta-se: por onde andaria tanto saber que somente agora se revelou,
que superiores interesses justificarão a simultânea aparição de tantos
babélicos devaneios? Quanta inquietação no mundo, insuportável agitação!...
Os sabichões multiplicam-se a cada
dia. E que bem discursam do alto dos seus iluminados palanques, falando sobre
tudo e, ainda mais, sobre todos! A não ser eles próprios, ninguém escapa aos
incontrariáveis pareceres judiciosos que debitam categoricamente e com
esmagadora sabedoria. Pena que acabem traídos por tamanha torrente de saber que
os expõe a arreliadoras contradições: nos dias pares, apontam uma direção; nos
ímpares, o seu contrário…
O Alemão vai vivendo os seus dias assumindo prazerosamente o que amou em criança e que continua a amar e a cumprir com zelo, mesmo depois de velho. Agora mais lentamente; a idade define o andamento… Alimenta-se de recordações que não perderam qualidades nutritivas e que, por isso, lhe mantêm bem viva a alma que ainda resiste.
“A vida
segue, mas as memórias dos momentos compartilhados com os amigos ficam connosco
durante toda a vida” - anónimo.
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