terça-feira, 27 de março de 2018




 




HISTÓRIA Nº. 24


A gente percebe…



A gente percebe. Lamentavelmente, percebe-se que acham que a gente não percebe. A quase bondade no olhar. A quase pureza nas palavras. A quase preocupação nos gestos. A quase sinceridade nas discussões e consequentes decisões, já previamente concebidas.  A quase transparência nas sugestões sobre as mais diversas situações. A gente percebe os quase tudo  em tudo. A gente percebe que os quase tudo são nada. Mas pretende-se dar a ideia de que são muito. O Alemão está cansado deste mundo dos quase. Percebe que as aparências não são o resultado do que verdadeiramente é sentido. Nem sequer o são quase“Não há mal que sempre dure”, diz o nosso povo do alto da sua sabedoria. Está quase a passar, deseja-se. Mas o Alemão percebe que o mundo tomou o caminho dos quase onde sobreviver acabará por merecer, em breve, o estatuto de missão quase impossível. 

A gente percebe que até a Primavera é apenas quase Primavera. As flores não aparecem. As árvores não se vestem. Os pássaros não cantam. O tempo não ameniza. Mas há quem preveja que o bom tempo está quase a chegar…  

A propósito. Imagem dos bons amigos, companheiro indefetível de todas as horas, o Chiquinho II, canário que a amiga Conceição lhe ofereceu em substituição do Chiquinho I que a idade levou, canta em qualquer situação. No escritório doméstico do Alemão, canta vivamente até que a voz lhe doa, como diz o poeta. Das 7 da manhã, tipo despertador, até ao final do dia. Não é o canto desesperado do rouxinol, Alma Perdida, de Florbela Espanca, não. É o canto límpido e decidido, mas doce, de quem não é quase companheiro. É talvez o canto de alguém que faz questão de lembrar que está por perto… O Alemão gostaria de conhecer a letra desta canção!...  




2 comentários:

  1. https://youtu.be/9-ssGluKcfo

    A harmonia do quase, num canto amigo...
    Parabéns pelo texto.
    Abraço amigo

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  2. Penso que a autenticidade da nossa crença interior, nos faz vibrar e trazer ao de cima, aquilo que de recôndito permanece na nossa alma!
    Os "quases" tudo desta vida, podem ser peripécias da mesma, mas dão-nos a capacidade de analisar os "capítulos" seguintes... e o canto límpido do nosso "eu", habitará nos jardins do nosso coração.
    Abraço amigo (sem quase abraço).
    Abraço amigo

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