HISTÓRIA Nº. 21
A diáspora…
No refúgio do
pequeno escritório. Segunda-feira, princípio da manhã, cedo. Pouco movimento na
rua, ainda. A música e a voz do ceguinho
de Santa Catarina/Formosa anunciam já, através dos primeiros acordes do “Rosa arredonda a saia”, o concerto que durará
até à noitinha. Sem nada para fazer, o Alemão
pensa, pensa. Com dor no coração (tem motivo para isso) … e com a estranha
sensação de estar só. Onde estarão todos, eram tantos?!... Muitos já partiram para
o outro lado da vida, condescendeu. É verdade. E que saudade alguns deixaram! Mas
outros ainda estão por cá, no mundo, espalhados, sem que se conheça o seu paradeiro. Partiram em diversas direções.
Dispersaram. Sem uma palavra, sem um adeus. Arriscaram novos caminhos. A
diáspora…
O que terá
acontecido? O que outrora aproximava as pessoas terá perdido a sua capacidade
aglutinadora? A notória repulsão a que se assiste será fruto de novos e
atraentes interesses? Quais? Que objetivos se sobrepuseram a valores e
princípios como o amor, o respeito, a solidariedade… tão sublimados no passado?
O dinheiro? O poder? O egoísmo? O mundo mudou, respondem. O atual paradigma
aponta para alterações radicais da vida em sociedade, dizem. O Alemão não se conforma. E observa
preocupado. Assiste, com tristeza, ao
esvaziamento da terra (Isaías, 24). Sobretudo à perda do amor em que sempre
acreditou. E pelo qual tanto lutou.
A agitação das
populações ao nível da política, da educação, da justiça, do trabalho, e em tantas
outras áreas da vida em sociedade, já não surpreende. Sem ofensa, o Alemão revela hoje a quem o lê que nunca
acreditou muito nos “homens” … Infelizmente, em muitos casos pessoais, a vida
acabou por lhe dar razão. Porém, esperava um pouco mais daqueles que, para si,
constituíam e constituem, ainda, a exceção contida naquela revelação.
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