terça-feira, 13 de fevereiro de 2018




HISTÓRIA Nº. 20


A Máscara…


Coimbra. Um qualquer dia quente de um qualquer Agosto dos idos anos 80, cerca das 22 horas. O saudoso amigo Guilherme Brandão, companheiro de milhares e milhares de quilómetros, e o Alemão caminhavam após o jantar, para ajudar à digestão.  Uma das etapas da Volta a Portugal em Bicicleta, evento em que colaboravam, terminara naquela cidade, terra de tão intensas e eternas recordações. Repentinamente, de uma esquina próxima, explodiu um pregão altissonante, perturbador do silêncio aconselhável e obrigatório àquela hora da noite, que dizia: “Olha a última, é a última, quem quer a última?...”. Um pobre cauteleiro reabrira a sua barulhenta “loja”, pela presença próxima de eventuais clientes. E resultou. Pretendendo reaver a paz daquele passeio noturno, o bom do Guilherme chamou o homem, comprou-lhe a “última” e desejou-lhe uma boa noite. Gesto gratificante. Afinal, vendidas todas as frações, o homem podia finalmente regressar a casa para o merecido descanso. Atividade cansativa e desgastante a de calcorrear ruas e mais ruas para ganhar o seu sustento. E com isto foi reconquistada a paz daquela caminhada. Malograda expectativa. Dez minutos depois, noutra rua já perto do Hotel onde se hospedaram, de novo o mesmo homem, a mesma explosão, o mesmo pregão: “Olha a última, é a última, quem quer a última?...”. Desta vez não teve tempo para muito mais: reconheceu as vítimas... “Mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo”.

Esta lembrança a propósito de muitas outras situações reveladoras das habilidades-subtilezas-mentiras que alguns dominam na perfeição, sobretudo no que tange a enganar-convencer o seu próximo. Aquela habilidade não foi nada cara e acabou, mesmo, por ser divertida. Infantil, até. Mas quantas não terão sido utilizadas obrigando os atingidos por elas ao pagamento de preços muito elevados, com prestações a estenderem-se por toda uma vida… Desumanidade!


Daí que, assente na sabedoria popular, “cesteiro que faz um cesto faz um cento”, “não há duas sem três”, ou “à primeira quem quer cai, à segunda cai quem quer”, o Alemão vai-se retraindo cada vez mais, vivendo num seguro refúgio de cuidados. Lamentavelmente, tais comportamentos enganosos prejudicam um dos princípios mais importantes no relacionamento entre as pessoas: a CONFIANÇA. O Alemão desconfia que aquela confiança só será possível quando a humanidade andar, toda ela, de rosto descoberto. Sem máscaras...





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