HISTÓRIA Nº. 20
A Máscara…
Coimbra. Um
qualquer dia quente de um qualquer Agosto dos idos anos 80, cerca das 22 horas.
O saudoso amigo Guilherme Brandão, companheiro de milhares e milhares de
quilómetros, e o Alemão caminhavam
após o jantar, para ajudar à digestão. Uma das etapas da Volta a Portugal em
Bicicleta, evento em que colaboravam, terminara naquela cidade, terra de tão intensas
e eternas recordações. Repentinamente, de uma esquina próxima, explodiu um
pregão altissonante, perturbador do silêncio aconselhável e obrigatório àquela
hora da noite, que dizia: “Olha a última,
é a última, quem quer a última?...”. Um pobre cauteleiro reabrira a sua
barulhenta “loja”, pela presença próxima
de eventuais clientes. E resultou. Pretendendo reaver a paz daquele passeio noturno,
o bom do Guilherme chamou o homem, comprou-lhe a “última” e desejou-lhe uma boa noite. Gesto gratificante. Afinal,
vendidas todas as frações, o homem podia finalmente regressar a casa para o merecido descanso. Atividade cansativa e desgastante a de calcorrear ruas e mais ruas para ganhar
o seu sustento. E com isto foi reconquistada a paz daquela caminhada. Malograda
expectativa. Dez minutos depois, noutra rua já perto do Hotel onde se
hospedaram, de novo o mesmo homem, a mesma explosão, o mesmo pregão: “Olha a última, é a última, quem quer a
última?...”. Desta vez não teve tempo para muito mais: reconheceu as
vítimas... “Mais depressa se apanha um
mentiroso do que um coxo”.
Esta lembrança a
propósito de muitas outras situações reveladoras das habilidades-subtilezas-mentiras
que alguns dominam na perfeição, sobretudo no que tange a enganar-convencer o seu
próximo. Aquela habilidade não foi nada cara e acabou, mesmo, por ser divertida. Infantil,
até. Mas quantas não terão sido utilizadas obrigando os atingidos por elas ao
pagamento de preços muito elevados, com prestações a estenderem-se por toda uma
vida… Desumanidade!
Daí que, assente
na sabedoria popular, “cesteiro que faz
um cesto faz um cento”, “não há duas sem três”, ou “à primeira quem quer cai, à
segunda cai quem quer”, o Alemão
vai-se retraindo cada vez mais, vivendo num seguro refúgio de cuidados. Lamentavelmente,
tais comportamentos enganosos prejudicam um dos princípios mais importantes no
relacionamento entre as pessoas: a CONFIANÇA. O Alemão desconfia que aquela confiança só será possível quando a
humanidade andar, toda ela, de rosto descoberto. Sem máscaras...
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