Mas se tu soubesses como a solidão pode nos enriquecer…
“Existem
nas recordações de todo o homem coisas que ele só revela aos amigos. Há outras
que não revela mesmo aos amigos, mas apenas a si próprio, e assim mesmo em segredo.
Mas também há, finalmente, coisas que o homem tem medo de desvendar até a si
próprio…”
Fiódor
Dostoiévski
Bem-acondicionadas,
sempre prontas para uso pessoal, cento e duas fanecas da pedra resistem
ao tempo que as confirma e mantem atuais. O Alemão escreveu-as para si e
para os seus amigos, algumas delas numa linguagem que só ele entende na
totalidade. Revisita-as com frequência, deleitando-se nas encantadoras
recordações que a sua releitura carinhosamente lhe desperta. Lembranças que por
instantes lhe reproduzem épocas em que, embora materialmente pobre, se alimentava
da riqueza de princípios e valores humanos que caraterizava a sociedade de
então.
A constante
sublimação daqueles tempos tem-lhe valido o epíteto de conservador, normalmente
atribuído a alguém que parou no tempo… Mas quem o conhece, sabe que não só não
parou no tempo, como tem lutado pelo ressurgimento de valores cuja perenidade tem
sido posta em causa, riqueza gradativamente desvalorizada até ao seu completo
desuso nos dias de hoje. Mundo cada vez mais pobre!...
Avesso a
confusões, a maior parte dos seus dias viveu-os em solidão. O Alemão,
agora idoso, cujo cansaço é por demais notório, em boa hora adotou esse estilo
de vida desde que se conhece… e é assim que gosta de estar. Convive com os seus
pensamentos, com as suas lembranças, em constantes passeios pelos imensos
corredores da sua história, onde tantos expositores preservam, ufanos de tamanha
honra, troféus de enorme significado.
“-Só foge da solidão
quem tem medo dos próprios pensamentos, das próprias lembranças.
- Talvez…
- Mas se tu
soubesses como a solidão pode nos enriquecer…”
Érico Veríssimo
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