segunda-feira, 4 de setembro de 2023


HISTÓRIA Nº. 98

 

     

“Dias escuros sem sorrisos, sem risadas de verdade. Dias tristes, vontade de fazer nada, só dormir.”

Caio Fernando Abreu

 


Sai menos vezes, agora. A agitação das ruas próximas do lugar onde mora há dezenas de anos, criou um ambiente completamente oposto àquele que a sua natureza sempre procurou. Desde o meio da manhã até altas horas da noite, uma espécie de invasão levada a cabo por povos vindos das mais diversas partes do mundo, transforma a pacatez dessa parte da cidade numa babel atordoadora. Diariamente!... A Festa, onde não se alcança o dialeto dominante dos participantes, decorre normalmente solta de ruídos que nenhum sonómetro se atreve a medir. Afinal, trata-se de celebrar a vida… em território alheio!

 

Resignado com a repetitiva situação, por mera curiosidade ainda ouve as longuíssimas dissertações dos opinadores que falam de tudo e sobre tudo (nunca foram tantos!...), destacando e elogiando as apelativas medidas tomadas e que têm conduzido a inegáveis e imediatos bons resultados de tal cosmopolitismo: a sociedade moderna imparável em todo o seu esplendor. Seja!...

 

Espuma dos dias, pensa o Alemão, antes de adormecer, na madrugada já alta finalmente silenciosa. A idade pede-lhe um sono descansado que a vida “lá fora” não lhe permite. Ainda assim, compreende a efusividade de quem tão vivamente celebra a vida, a sua vida.  Mas há de chegar o dia da pergunta sobre o que terá sobrado da Festa!... “E agora José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou. E agora, José?” – Carlos Drummond de Andrade.

 

Perdoem o saudosismo do Alemão! Incorrigível…

 

Na verdade, “o passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente…” - Mário Quintana. 




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