HISTÓRIA Nº. 98
“Dias
escuros sem sorrisos, sem risadas de verdade. Dias tristes, vontade de fazer
nada, só dormir.”
Caio
Fernando Abreu
Sai menos vezes, agora. A agitação
das ruas próximas do lugar onde mora há dezenas de anos, criou um ambiente
completamente oposto àquele que a sua natureza sempre procurou. Desde o meio da
manhã até altas horas da noite, uma espécie de invasão levada a cabo por povos
vindos das mais diversas partes do mundo, transforma a pacatez dessa parte da
cidade numa babel atordoadora. Diariamente!... A Festa, onde não se
alcança o dialeto dominante dos participantes, decorre normalmente solta de
ruídos que nenhum sonómetro se atreve a medir. Afinal, trata-se de celebrar a
vida… em território alheio!
Resignado com a repetitiva situação,
por mera curiosidade ainda ouve as longuíssimas dissertações dos opinadores
que falam de tudo e sobre tudo (nunca foram tantos!...), destacando e elogiando
as apelativas medidas tomadas e que têm conduzido a inegáveis e imediatos bons
resultados de tal cosmopolitismo: a sociedade moderna imparável em todo o seu
esplendor. Seja!...
Espuma dos dias, pensa o Alemão,
antes de adormecer, na madrugada já alta finalmente silenciosa. A idade
pede-lhe um sono descansado que a vida “lá fora” não lhe permite. Ainda
assim, compreende a efusividade de quem tão vivamente celebra a vida, a sua
vida. Mas há de chegar o dia da pergunta
sobre o que terá sobrado da Festa!... “E agora José? A festa acabou,
a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou. E agora, José?” – Carlos
Drummond de Andrade.
Perdoem o saudosismo do Alemão!
Incorrigível…
Na verdade, “o passado não
reconhece o seu lugar: está sempre presente…” - Mário Quintana.
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