HISTÓRIA Nº. 82
Deus vos abençoe, meus amigos…
Época do ano altamente
sensibilizadora. Ganham honras de primeiras páginas ou de prime time as
necessidades e pobrezas dos menos protegidos, consequências das dificuldades do
dia a dia acrescidas das despesas “normais” de quem pretende alcançar, no
momento, o que sempre custou mais… Peditórios e mais peditórios, generosidade ou
caridadezinha, sucedem-se. Ano após ano, sempre assim! O “Alemão” não se
debruça sobre matérias que estão para além do seu conhecimento e do que
outros entendem sobre isto. E há sempre quem entenda muito!... Compreende e aceita sem reservas. Sempre foi
assim!...
Meados do século passado, ainda
criança, tempo de férias escolares, quinze dias, passava-as sozinho enquanto a
mãe trabalhava para o sustento da casa (ou do pequeno quarto…). Sentado, horas
e horas, no portal do 29 da Rua das Taipas, olhava o movimento. Talvez aí,
lembrou agora, a origem da observação que ainda hoje melhor o carateriza. Só
quem por lá passou faz ideia do movimento que então fervilhava naquela
histórica rua. A Alicinha peixeira, à entrada da Rua da Vitória, dominava o
espaço e procurava vender todo o seu produto nem que fosse até à meia-noite... Admirável
senhora, que amava, confessa, mas cujo abraço evitava por questões olfativas… Sobrava sempre algum pescado, quase sempre sardinhas,
que dividia com a casa da irmã Celeste. A Alice peixeira, mulher
“monumental”, boa irmã!
Ao lado, a irmã Isaura e o
marido, o senhor Almeida, no pequeno quiosque que os alimentou a vida toda e a
partir do qual sempre ajudaram a família e uns quantos amigos e irmãos.
E a irmã Emília e o seu marido o senhor Álvaro, logo a seguir, que desenvolviam
um pequeno negócio de peças ornamentais, que os sustentava a si e ao filho,
hoje médico conceituado, e que lhes permitia ainda ajudar a muitos irmãos.
Gente boa, crentes em Deus,
disponíveis quanto à caridade em qualquer altura do ano. Chegada a hora do
culto, no Bonjardim, percorriam os caminhos, quarenta e cinco minutos a pé, em pequeno
mas animado grupo, com chuva ou com sol, transbordando de alegria, sem
queixumes! “Alegrei-me quando me disseram, vamos à casa do Senhor”.
Que saudades, meu Deus!
Anos sessenta, século passado, fim
de um dia, regressava a mãe do seu trabalho. O Alemão olhava-a com
ansiedade desde o cimo da rua até que chegava à porta de casa. Qual seria o
jantar daquela noite? Ele sabia que na sacola que ela transportava vinha o
alimento principal daquele dia: o que havia sobejado do almoço dos patrões. Mas,
surpresa das surpresas, o que chegara, nem a pobre mãe sabia, não lhe era permitido
comer... A sua consciência confirmou-lho. E o seu temor foi superior à
vontade de transgredir. Estômago vazio. Dormiu, tranquilo! Dormiu em paz!
Dormiu com Deus!...
O Alemão tem percebido
alguma movimentação sobre os dias que vivemos. Que aceita, é o mundo, é a vida! Só
tem alguma dificuldade em perceber o tipo de reclamação que se faz quando se
comparam as situações do passado com as vicissitudes do tempo presente. A vida do homem sempre se desenvolveu através de altos e baixos… Todos falam de si,
legitimamente. E os outros?...
No dia 1 de janeiro de 2023, quase a chegar, possivelmente manifestaremos vivamente o desejo de que Deus continue a ser a nossa
proteção.
Deus vos abençoe, meus
amigos!
Amém irmão Vítor, feliz ano novo
ResponderEliminarMaravilhoso relato das agruras da vida de então e/ou do presente. Deus o abençoe.
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