segunda-feira, 19 de dezembro de 2022



 


HISTÓRIA Nº. 82

 

 

Deus vos abençoe, meus amigos…

 

 

Época do ano altamente sensibilizadora. Ganham honras de primeiras páginas ou de prime time as necessidades e pobrezas dos menos protegidos, consequências das dificuldades do dia a dia acrescidas das despesas “normais” de quem pretende alcançar, no momento, o que sempre custou mais… Peditórios e mais peditórios, generosidade ou caridadezinha, sucedem-se. Ano após ano, sempre assim! O “Alemão” não se debruça sobre matérias que estão para além do seu conhecimento e do que outros entendem sobre isto. E há sempre quem entenda muito!...  Compreende e aceita sem reservas. Sempre foi assim!...

 

Meados do século passado, ainda criança, tempo de férias escolares, quinze dias, passava-as sozinho enquanto a mãe trabalhava para o sustento da casa (ou do pequeno quarto…). Sentado, horas e horas, no portal do 29 da Rua das Taipas, olhava o movimento. Talvez aí, lembrou agora, a origem da observação que ainda hoje melhor o carateriza. Só quem por lá passou faz ideia do movimento que então fervilhava naquela histórica rua. A Alicinha peixeira, à entrada da Rua da Vitória, dominava o espaço e procurava vender todo o seu produto nem que fosse até à meia-noite... Admirável senhora, que amava, confessa, mas cujo abraço evitava por questões olfativas…  Sobrava sempre algum pescado, quase sempre sardinhas, que dividia com a casa da irmã Celeste. A Alice peixeira, mulher “monumental”, boa irmã!

 

Ao lado, a irmã Isaura e o marido, o senhor Almeida, no pequeno quiosque que os alimentou a vida toda e a partir do qual sempre ajudaram a família e uns quantos amigos e irmãos. E a irmã Emília e o seu marido o senhor Álvaro, logo a seguir, que desenvolviam um pequeno negócio de peças ornamentais, que os sustentava a si e ao filho, hoje médico conceituado, e que lhes permitia ainda ajudar a muitos irmãos.

 

Gente boa, crentes em Deus, disponíveis quanto à caridade em qualquer altura do ano. Chegada a hora do culto, no Bonjardim, percorriam os caminhos, quarenta e cinco minutos a pé, em pequeno mas animado grupo, com chuva ou com sol, transbordando de alegria, sem queixumes! “Alegrei-me quando me disseram, vamos à casa do Senhor”. Que saudades, meu Deus!

 

Anos sessenta, século passado, fim de um dia, regressava a mãe do seu trabalho. O Alemão olhava-a com ansiedade desde o cimo da rua até que chegava à porta de casa. Qual seria o jantar daquela noite? Ele sabia que na sacola que ela transportava vinha o alimento principal daquele dia: o que havia sobejado do almoço dos patrões. Mas, surpresa das surpresas, o que chegara, nem a pobre mãe sabia, não lhe era permitido comer... A sua consciência confirmou-lho. E o seu temor foi superior à vontade de transgredir. Estômago vazio. Dormiu, tranquilo! Dormiu em paz! Dormiu com Deus!...

 

O Alemão tem percebido alguma movimentação sobre os dias que vivemos. Que aceita, é o mundo, é a vida! Só tem alguma dificuldade em perceber o tipo de reclamação que se faz quando se comparam as situações  do passado com as vicissitudes do tempo presente. A vida do homem sempre se desenvolveu através de altos e baixos… Todos falam de si, legitimamente. E os outros?...

 

No dia 1 de janeiro de 2023, quase a chegar, possivelmente manifestaremos vivamente o desejo de que Deus continue a ser a nossa proteção.

 

Deus vos abençoe, meus amigos!





2 comentários:

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.