domingo, 21 de agosto de 2022




HISTÓRIA Nº. 78

 

É que a vida cansa!

 

Em pousio, a ver apenas crescer ervas daninhas nos canteiros do espírito que costumo trazer granjeados. Mas tenho épocas assim, em que só me apetece ser estúpido como a vida” – Miguel Torga, Diário XV.

 

Quando consegue algum tempo livre, nem que seja por breves minutos, o Alemão lê um pouco de algum dos escritos de Miguel Torga, figura maior da literatura portuguesa com quem mais se identifica.  A proximidade geográfica das suas origens, S. Martinho de Anta e Vila Seca de Poiares, o S. Leonardo de Galafura “À proa de um navio de penedos”, o Doiro Sublimado consagrando “O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir”, lido e relido dezenas e dezenas de vezes, com o Marão altaneiro a vigiar toda esta grandiosidade, criaram entre si uma indelével afinidade. O Alemão aprecia-lhe, ainda, a nobreza de caráter percetível em toda a sua Obra.

 

Calcorreando os já longos caminhos do tempo, o Alemão conheceu momentos do percurso já cumprido verdadeiramente enriquecedores, de beleza inigualável e inesquecível, bem como outros de enormes dificuldades, espinhosos, escabrosos, de feiura assustadora.  Ambos lhe talharam a sua personalidade. Afinal, são os altos e baixos da vida, como sempre ouviu dizer a propósito da alternância das “paisagens” opostas que ia contemplando, com a ideia de que tal movimento se devia à vida em si mesma e não à influência de agentes promotores de cada um deles…

 

Quantas dúvidas se permitiu perante quadros inesperados por inadmissíveis na vivência do dia a dia. Desilusões e deceções capazes de produzir matéria dispensável ao são desenvolvimento dos bons sentimentos que pretende manter desde que os alcançou. E como tem desejado juntar àqueles outros tão ou ainda mais nobres expostos na galeria quase inacessível dos bens de incalculável valor, por isso raros, da existência humana!

 

Tanto lutou por trazer granjeados os canteiros do espírito. Agora, está em pousio.... a ver apenas crescer ervas daninhas. É que a vida cansa! 





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