HISTÓRIA Nº. 54
Não se regressa ao passado…
O Alemão está confuso.
Encorrilha a testa, esforça o olhar. Tenta encontrar o seu mundo, aquele
em que viveu até há pouco tempo. Mas não
reconhece o que vê. “A visão já não é o que era”, dir-lhe-ão em jeito de
conforto, mas a que ainda tem é suficiente para que perceba o que o rodeia. O
seu mundo já não existe! Como quem volta de um desmaio, o lapso de tempo
entre a visão e a perceção leva-o à interrogação: “onde estou, o que
aconteceu?” Adormeceu com uma realidade, acordou com outra
que não lhe diz nada… Uma espécie de “regresso ao futuro” onde nunca
esteve, lembrando-lhe a ficção cinematográfica que tantas vezes o encantou no
passado. Já agora, em que época estará?
A brusquidão e o descontrolo das
mudanças desgostam-no e, pior, assustam-no. O Alemão desconfia que os
ventos que animam a agitação atual resultam de terem sido consideradas dispensáveis
certas etapas de ligação ao futuro. Por isso ignoradas. Desprezaram-se
fundamentos importantes, comprometendo-se a normalidade do caminho… e do
caminhar. Tanta pressa de alguns em chegar não se sabe bem onde! Tanta
ambição.! Tanta ultrapassagem desnecessária e arriscada para todos! Tanto tempo
perdido! Tanta infantilidade, enfim!
Voltar atrás. Refazer o trajeto.
Percorrer agora os caminhos desprezados. O Alemão sabe que é tarde. E
dói-lhe a alma por isso. Não se regressa ao passado. Só na ficção…
Mesmo assim, como desejaria o Alemão que neste futuro tão à
pressa desenhado fosse enxertado algum do material intemporal descartado que
lhe desse esperança quanto a dias melhores! O Alemão adormeceria
com a realidade que não conhece e acordaria com outra em que
reconhecesse de novo o seu mundo em normal evolução.
Que bom seria!...
A vida recomeça todos os dias numa agitação do quotidiano, as pessoas falam... falam, sem se ouvirem, num mundo tão inóspito e cheio de sonhos vazios!
ResponderEliminarEntão fecho-me no "mundo"que eu própria invento para conseguir respirar!...
Um "sentir" de alma, que reflecte o meu "sentir"...
Parabéns, excelente texto!
Abraço amigo