HISTÓRIA Nº. 13
Não, não
esperava!...
Se esperava?
Não, não esperava. Apesar da riqueza de conteúdo armazenado no seu passado, e que
de certo modo tem ajudado a amortecer o efeito do inesperado, o Alemão nunca se permitiu admitir sequer a
ousadia de alguém pretender abalar o amor que alicerça o edifício de que tanto
se orgulha e que a tantos custou a erguer. Para ele, uma das máximas da sua
existência é: não se mexe no que se ama. Por isso a obrigação, instintiva, de
proteger o bem que se ama. O que ninguém pode censurar…
Diz Rubem Alves, insigne escritor brasileiro,
que “aquilo
que o coração ama fica eterno”. O Alemão
concorda. A propósito, o Alemão
lembra as longínquas décadas de 60 e 70 do século passado, era ainda um aprendiz, em que, por amor, caminhava quilómetros e quilómetros a pé, com sapato
furado, quase sempre sem um tostão na algibeira, em cumprimento voluntário
desse mesmo amor. Diga-se em abono
da verdade: não era o único. Muitos, alguns ainda vivos nos dias de
hoje, faziam o mesmo ou muito mais. Por
amor, muito amor. Histórias que o Alemão,
se tiver tempo!…, ainda contará.
Durante anos, às
sextas-feiras, ao final da tarde, fez o Alemão
longas caminhadas desde a Avenida dos Aliados/Rua de Gonçalo Cristóvão, onde
trabalhava, até Matosinhos, Avenida Meneres, para tocar na Igreja, dando vida
ao velho harmónio a pedais (para encher os foles) que ajudava tanta gente
simples, cheia de amor, a cantar Santos Hinos de Louvor a Deus. E em outros
dias, também a pé, por diversos lugares, ensinava música, o pouco que sabia. E o que
dizer dos inúmeros fins de semana, viajando com o seu velho acordeão sobre as
pernas (o banco traseiro do Fiat 600 em que era transportado não
tinha espaço para mais…) para alegrar os santos cultos nas aldeias,
acompanhando homens simples, pobres, humildes, cheios de dificuldades na vida,
mas que levavam com alegria e amor a
Boa Nova a muitos lugares deste País. Homens a quem o Alemão nunca ouviu qualquer queixume. O que faziam, faziam por
amor.
E se
alguém não consegue ver com os olhos o amor aqui sublimado, então esforce-se
por descobri-lo com o coração. Como
bem sugeriu William Sheakespeare.
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