terça-feira, 14 de novembro de 2017



HISTÓRIA Nº. 13

Não, não esperava!...

Se esperava? Não, não esperava. Apesar da riqueza de conteúdo armazenado no seu passado, e que de certo modo tem ajudado a amortecer o efeito do inesperado, o Alemão nunca se permitiu admitir sequer a ousadia de alguém pretender abalar o amor que alicerça o edifício de que tanto se orgulha e que a tantos custou a erguer. Para ele, uma das máximas da sua existência é: não se mexe no que se ama. Por isso a obrigação, instintiva, de proteger o bem que se ama. O que ninguém pode censurar…

Diz Rubem Alves, insigne escritor brasileiro, que “aquilo que o coração ama fica eterno”. O Alemão concorda. A propósito, o Alemão lembra as longínquas décadas de 60 e 70 do século passado, era ainda um aprendiz, em que, por amor, caminhava quilómetros e quilómetros a pé, com sapato furado, quase sempre sem um tostão na algibeira, em cumprimento voluntário desse mesmo amor. Diga-se em abono da verdade: não era o único. Muitos, alguns ainda vivos nos dias de hoje, faziam o mesmo ou muito mais. Por amor, muito amor. Histórias que o Alemão, se tiver tempo!…, ainda contará.

Durante anos, às sextas-feiras, ao final da tarde, fez o Alemão longas caminhadas desde a Avenida dos Aliados/Rua de Gonçalo Cristóvão, onde trabalhava, até Matosinhos, Avenida Meneres, para tocar na Igreja, dando vida ao velho harmónio a pedais (para encher os foles) que ajudava tanta gente simples, cheia de amor, a cantar Santos Hinos de Louvor a Deus. E em outros dias, também a pé, por diversos lugares, ensinava música, o pouco que sabia. E o que dizer dos inúmeros fins de semana, viajando com o seu velho acordeão sobre as pernas (o banco traseiro do Fiat 600 em que era transportado não tinha espaço para mais…) para alegrar os santos cultos nas aldeias, acompanhando homens simples, pobres, humildes, cheios de dificuldades na vida, mas que levavam com alegria e amor a Boa Nova a muitos lugares deste País. Homens a quem o Alemão nunca ouviu qualquer queixume. O que faziam, faziam por amor.


E se alguém não consegue ver com os olhos o amor aqui sublimado, então esforce-se por descobri-lo com o coração. Como bem sugeriu William Sheakespeare.




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