terça-feira, 23 de julho de 2024



HISTÓRIA Nº. 122

 

O Bem e o Mal…

 

“Os homens deviam ser o que parecem ou, pelo menos, não parecerem o que não são.”

- William Shakespeare

 

O jogo cauteloso das palavras, atenuador da dureza dirigida a uma das posturas humanas mais usadas e criticadas atualmente: a dissimulação. O distinto escritor inglês aponta o caminho da verdade, da autenticidade. Até o Alemão que, sem reservas, subscreve a introdução acima, procura as melhores palavras quando da adjetivação, felizmente não generalizável, dos sentimentos que prejudicam a vida em sociedade, sobretudo ao nível das boas relações que se esperam duradouras.

 

Diz o nosso povo, num dos seus adágios mais antigos, que “nem tudo o que reluz é ouro”. Mas a verdade é que, lamentavelmente, o brilho sedutor da aparência fascina a alma mais pura e simples. E uma mentira bem contada e inúmeras vezes repetida consegue ganhar foros de verdade! Um sorriso, uma palavra, ou um gesto inautênticos, hipócritas até, alcançam facilmente estatuto de sinceridade inatacável.    

 

Como alguém disse, “a verdade sempre aparece, pois é uma das regras fundamentais do tempo.” Impressionante como o tempo acaba por revelar a verdade dos sentimentos declarados: tantos se apresentam nobres sem o ser; tantos são tidos como falsos sendo verdadeiros. Quando assumida, a virtuosa paciência, nem sempre compreendida por ser controladora de desesperos e travão de precipitações, nunca vê frustrada a sua resistência. Pode questionar-se se vale a pena aguardar, muito ou pouco, mas os valores resultantes da espera serão sempre compensadores: pelo menos, o triunfo do certo sobre o errado, do verdadeiro sobre o falso!...

 

Discernir entre o bem e o mal, o desafio instante nestes tempos tão perturbadores!...  

 

“A sociedade vive num sistema hipócrita. Todos querem sinceridade, mas ninguém luta por isso.”

- Tatiana Moreira Alvarez




domingo, 21 de julho de 2024



HISTÓRIA Nº. 121

 

Mas, tudo bem!...

 

 

“Faz de conta que a vida é perfeita, que tudo é possível, que o mundo conspira só a favor do bem;

Que as lágrimas são doces, que os arranhões são confetes, que a tristeza não machuca;

Que a dor foi embora, que o riso agora, chegou para ficar.

Faz de conta…”

- Marina Rotty

 

 

Noite muito mal dormida. Amanhecer antecipado. Domingo de Verão a anunciar-se digno desta estação tão desejada. Uma espreitadela sobre a rua ainda deserta recordou-lhe os tempos em que a cidade ficava vazia nesse dia consagrado ao descanso. Sabe, porém, que, daqui a pouco, não faltarão os idiomas mais diversos falados pelos transeuntes da baixa portuense a confirmar a atual realidade babélica da linda cidade que o viu nascer no século passado. Mas, tudo bem!

 

Programa do dia necessariamente alterado e que lhe lembrou um pequeno texto sobre a falibilidade dos projetos humanos: “Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida?” - Tiago, Bíblia Sagrada. E de há um tempo a esta parte, quantos ajustamentos de última hora a corrigirem previsões apontadas como certas e que, acredita o Alemão, nem sempre terão sido bem compreendidas …  Mas, tudo bem!

 

Com tempo para pensar, o Alemão foi deambulando ao sabor da liberdade que a si mesmo ofereceu nesta manhã de Julho. Sim, que ofereceu a si mesmo, excecionalmente, porque não é normal permitir-se estas divagações mentais, a fim de evitar possíveis encontros antipáticos e indesejáveis, estragadores da paz conseguida através de algumas concessões. E foram muitas através dos anos! Hoje, com os devidos cuidados, sempre ajudará a passar o tempo…  Mas, tudo bem!

 

Façamos de conta que a vida é perfeita!...



 

terça-feira, 9 de julho de 2024



HISTÓRIA Nº. 120

 

O cansaço…

 

“Confesso que ando muito cansado, sabe? Mas um cansaço diferente… um cansaço de não querer mais reclamar, de não querer pedir, de não fazer nada, de deixar as coisas acontecerem.”

- Caio Fernando Abreu

 

Reconhece já não ser capaz de, pelo menos, tentar contrariar tendências alteradoras de princípios e valores que com tanto esforço defendeu e procurou preservar. De quadrantes inesperados, imprevisíveis, novos ventos, a quem conferem o estatuto de inevitabilidade, sopram firmemente, impondo sem discussão a sua vontade, uma nova e indiscutível vontade. Outros tempos que alegram o novo mundo e os seus seguidores e entristecem os poucos que os não aceitam nem suportam. “É o que é”, diz-se em linguagem moderna!...  

 

As últimas adversidades pessoais, preocupantes, serão, segundo alguns, matéria bastante que justifica a visão desconfiada que o Alemão tem do mundo em que vive e a dureza injusta das palavras que usa nas suas exposições. Mas, cento e vinte fanecas da pedra depois, ao longo de cerca de sete anos, os seus leitores confirmarão que a denúncia da queda de princípios e valores esteve quase sempre presente naqueles humildes textos. Não é pessimismo: é desgosto. Tristemente, o mundo desmorona-se e poucos o percebem!...

 

Na verdade, esperava maior resistência em gente que viu crescer perto de si através dos anos. O ânimo generalizado parecia inacabável. “A mão no arado sem olhar para trás” era reveladora de firmeza inabalável de um dos mais belos sentimentos: amor por amor. Tempos difíceis os de hoje!...

 

Embora compreenda o prejuízo imenso causado pela exigência dos novos tempos e dos novos ventos, o Alemão, fazendo o que pode, embora pouco, não tem deixado de, com os seus desabafos escritos, exercer alguma pressão na esperança de ver redinamizado o esforço perdido e reavivado o querer enfraquecido. Oxalá consiga!

 

O pior é o cansaço!...

 

“Um supremíssimo cansaço,

Ìssimo, íssimo, issimo,

Cansaço…”

                                                                                                                                     - Álvaro de Campos