segunda-feira, 29 de abril de 2024



HISTÓRIA Nº. 115

 

 

“Extraviou-se por desfiladeiros de neblina, por tempos reservados ao esquecimento, por labirintos de desilusão.”

- Gabriel Garcia Marquez, in Cem Anos de Solidão

 

 

Olhares muito curiosos procuram-no. Um recente desaparecimento intriga e suscita alguma natural especulação que, nem de perto nem de longe, descobre as razões da postura assumida. “Desfiladeiros de neblina, tempos reservados ao esquecimento, labirintos de desilusão”, escondem-no nos caminhos que percorre sem parar, nos quais exercita a paciência acumulada ao longo dos anos e lhe acrescenta um pouco mais a medida. “O tempo e a paciência são dois eternos beligerantes” - Leon Tolstói.

 

O Alemão não desapareceu, anda por aí. Calcorreia os caminhos da sua história, consome o tempo acompanhado das recordações que resgata ao adormecimento definitivo e que reaviva para sua satisfação. São lugares que só ele conhece e que, como sempre, visita sozinho. Lembranças que só ele sabe como e onde as conserva e preserva, longe da curiosidade alheia. Interessante é que, alguns dos personagens, ainda vivos, só desta forma os reencontra

 

Pacientemente, suporta com um sorriso que lhe chamem saudosista pela sublimação que faz daqueles tempos, dos bons tempos. Pessimista, é outro adjetivo com que o definem. Indiferente a essas qualificações e classificações concetuais, continuará a elevar bem alto o que o marcou indelevelmente. O Amanhã ainda tem muito a provar e o Hoje está à vista de todos!...   

 

Já agora, com um abraço sentido, do Alemão para os amigos: “Paciência não é passiva; pelo contrário, é ativa. É força concentrada.”

- Edward G. Bulwer-Lytton




 

 

domingo, 21 de abril de 2024



HISTÓRIA Nº. 114

 


“Se você não consegue entender o meu silêncio, de nada irá adiantar as palavras, pois é no silêncio das minhas palavras que estão todos os meus maiores sentimentos.”

- Oscar Wilde

 

 

Tantas vezes lhe seguraram a voz que acabaram por fazê-lo priorizar o silêncio sempre que teve de escolher entre o falar e o estar calado. E estar calado, quase sempre foi o melhor para si!... “Quando guri (criança), eu tinha de me calar à mesa: só as pessoas grandes falavam. Agora, depois de adulto, tenho de ficar calado para as crianças falarem” - Mário Quintana.

 

Desde muito cedo, o Alemão aprendeu as inúmeras linguagens da sobrevivência. E o que já viveu foi-lhe permitindo o aperfeiçoamento da sua colocação na vida, ajustando-se a cada época da forma mais adequada, não deixando nunca de proteger os seus maiores sentimentos.  Confessa, porém, que o mais recente ajustamento tem sido o mais difícil, pela dureza dos tempos de hoje que são muito mais exigentes do que outros pelo passado. Pena é que muitos ainda não tenham percebido o tipo de ajustamentos a fazer urgentemente…. Chegou-se a uma encruzilhada: não erremos o Caminho!    

 

Apontam o seu jeito de ser como exemplo a não seguir. Percebe perfeitamente o que sugerem os olhares que acompanham todos os passos que dá e as posições que assume. Alcança, também, a mensagem de muitos gestos subliminarmente dirigidos, sobretudo os travestidos de inocência, compreensão e bondade. Interpreta, ainda, os apartes arrogantes de quem acha ter desvendado o que nunca lhe foi revelado: os bem protegidos sentimentos do Alemão!...

 

“Sorrir, a segunda melhor coisa a se fazer com a boca. A primeira ainda continua sendo ficar calado” – autor desconhecido.





sexta-feira, 5 de abril de 2024



HISTÓRIA Nº. 113

 

 

“A solidão não é forçosamente negativa, pelo contrário, até me parece um privilégio. Talvez a minha solidão seja excessiva, mas eu detestei sempre as coisas mundanas. Estar com as pessoas apenas para gastar as horas é-me insuportável.”

- Eugénio de Andrade

 

 

Escasseiam à vista os lugares autenticamente tranquilos da vida. Difíceis de encontrar, não porque não existam, mas porque estão encobertos por um imenso manto de indiferença por parte de quem os não aprecia, admirando, por outro lado, a agitação deste tempo. Pesquisa perseverante do Alemão, levou-o ao encontro de esconderijos interessantes. Descobriu-os pacientemente no meio da solidão que tantos lhe censuram, mas que lhe tem dado condições saudáveis de não ver, de não ouvir, de não falar.

 

Aqueles espaços que privilegia, conserva-os irrevelados, inacessíveis. Desfruta-os longe de perturbações. Valioso património pessoal que o mantem distante da curiosidade de quem acredita tudo saber. Assim, procura manter o seu mundo cuidadosamente protegido, no meio deste mundo em acentuada e perigosa desconstrução. 

 

“O mal é a ausência do homem no homem” – Eugénio de Andrade. Melhor definição sobre a atual degradação da sociedade será difícil de encontrar. A irreprimível desumanização e o fluir de um rol de consequências imprevisíveis, mas inevitavelmente perversas, acentuam preocupantes egoísmos que, lamentavelmente, já se notam traduzidos na velha expressão: “salve-se quem puder”!

 

O Alemão termina esta metáfora com a palavra doce do poeta que admira e o inspirou nestes dizeres que, como todos os anteriores, dirige carinhosamente aos seu amigos, sem exceção: “Sê paciente, espera que a palavra amadureça e se desprenda como um fruto ao passar o vento que a mereça” - Eugénio de Andrade.