HISTÓRIA Nº. 96
E sou já do que fui tão diferente...
“E sou já do que fui tão diferente
Que, quando por meu nome alguém me
chama,
Pasmo, quando conheço
Que ainda comigo mesmo me pareço.”
- Luis de Camões
O que escreve assenta invariavelmente
em acontecimentos marcantes do seu passado mais remoto. Vividos em tempos de
grande pobreza e sem que ninguém se permitisse expetativas de mudança
para melhor no horizonte mais próximo, alguns desses acontecimentos foram de
uma riqueza irrepetível. Rebuscar esses momentos não é desconfiar do futuro
(valerá a pena confiar?...), é sim necessidade de não esquecer o conseguido no
passado. E sempre que essa necessidade
em si se desperta, o Alemão por instantes recupera-os e carinhosamente recria-se
no prazer da nobreza dos valores neles descobertos e que lhes conferem estatuto
de bens imperecíveis. Um mergulho em águas límpidas, um banho de
passado! A alegria de épocas em que se afirmavam e pontificavam a sinceridade,
a lealdade, o amor, o respeito. Ah, e o valor da palavra dada! É a esses
momentos que se refere, momentos que amou e que ninguém apagará da sua memória.
Nem o tempo! Momentos que ninguém, a nenhum título, poderá impedi-lo de reviver
sempre que o deseje…
As suas simples (simplórias!...)
histórias são muito mais do que o alcançável a partir das publicações já
acontecidas. Propositadamente, umas vezes oculta matéria na descrição; outras expõe
mais alargadamente, mas de forma enigmática. Gritos de alma que não reeditará. Registos
únicos para momentos únicos. Saudosismo? Se ser saudosista é valorizar o vivido
mais do que o momento que se vive, então o Alemão aceita tal
qualificação.
“Sou já do que fui tão diferente”, considera hoje o Alemão que,
tal como o poeta ontem, olha-se através do irrefutável espelho límpido da
realidade. O que vê (ou já não vê!...)
quase não reconhece. Quem aparece do outro lado diz-lhe agora muito
pouco!... E não se refere às inevitáveis modificações provocadas pelo avanço
etário, mas sim à ausência do que o caraterizou durante uma vida inteira: a
determinação que sempre colocou em tudo o que fez. Enfraqueceu!...
“(…) Que dias há que na alma me tem
posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei
porquê.”
- Luis de Camões
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