HISTÓRIA Nº. 90
“Hoje eu queria ler uns livros que não falam de gente, mas
só de bichos, de plantas, de pedras: um livro que me levasse por essas solidões
da Natureza, sem vozes humanas, sem discursos, boatos, mentiras, calúnias,
falsidades, elogios, celebrações…
Hoje eu queria apenas ver uma flor abrir-se, desmanchar-se,
viver sua existência autêntica, integral, do nascimento à morte, muito breve, sem
borboleta nem abelha de permeio. Uma existência total, no seu mistério.
(E antes da flor? – Não sei.) Esta ignorância humana. Este
silêncio do universo. A sabedoria.”
(Meireles
C., Compensação)
Dos que o viram
crescer, muito poucos sobrevivem. Estes confirmarão, certamente, a notória
inclinação para o silêncio e para a solidão que desde sempre deixou perceber. Uma
espécie de eremita num qualquer deserto deste mundo. Formas de estar, silêncio
e solidão, mais assumidas do que impostas, ainda hoje colunas sustentadoras do
seu edifício pessoal. Há quem veja nisto uma queda para a tristeza
crónica, vício doentio: outros a negação da própria vida tal como a definem
alguns sociólogos. O Alemão, socorrendo-se de um autor anónimo, garante
que “o silêncio e a solidão nunca lhe ensinaram tanto sobre as pessoas e
sobre si mesmo”.
Casualmente, tal
como a insigne escritora Cecília Meireles, o Alemão “hoje quis ler
uns livros que não falam de gente”. E descobriu uma pérola literária, o
texto que com a devida vénia acima reproduz. Escrito no século passado no
contexto de determinada realidade, terá ganho estatuto de contemporaneidade. Há
de ser sempre atual!...
Num tempo como o
que se vive, percorrer “as solidões da Natureza, sem vozes humanas, sem
discursos, boatos, mentiras, calúnias, falsidades, elogios, celebrações…” é
ir de encontro a uma paz consistente, autêntica. É essa paz que o Alemão tem perseguido pelos caminhos da sua escolha de sempre: silêncio e
solidão. Mesmo que muitos não tenham ainda entendido!...
“Hoje eu
queria apenas ver uma flor abrir-se, desmanchar-se… “
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