terça-feira, 18 de abril de 2023



 


HISTÓRIA Nº. 90

 

 

“Hoje eu queria ler uns livros que não falam de gente, mas só de bichos, de plantas, de pedras: um livro que me levasse por essas solidões da Natureza, sem vozes humanas, sem discursos, boatos, mentiras, calúnias, falsidades, elogios, celebrações…

Hoje eu queria apenas ver uma flor abrir-se, desmanchar-se, viver sua existência autêntica, integral, do nascimento à morte, muito breve, sem borboleta nem abelha de permeio. Uma existência total, no seu mistério.

(E antes da flor? – Não sei.) Esta ignorância humana. Este silêncio do universo. A sabedoria.”

 

(Meireles C., Compensação)

 

 

 

Dos que o viram crescer, muito poucos sobrevivem. Estes confirmarão, certamente, a notória inclinação para o silêncio e para a solidão que desde sempre deixou perceber. Uma espécie de eremita num qualquer deserto deste mundo. Formas de estar, silêncio e solidão, mais assumidas do que impostas, ainda hoje colunas sustentadoras do seu edifício pessoal. Há quem veja nisto uma queda para a tristeza crónica, vício doentio: outros a negação da própria vida tal como a definem alguns sociólogos. O Alemão, socorrendo-se de um autor anónimo, garante que “o silêncio e a solidão nunca lhe ensinaram tanto sobre as pessoas e sobre si mesmo”.

 

Casualmente, tal como a insigne escritora Cecília Meireles, o Alemão “hoje quis ler uns livros que não falam de gente”. E descobriu uma pérola literária, o texto que com a devida vénia acima reproduz. Escrito no século passado no contexto de determinada realidade, terá ganho estatuto de contemporaneidade. Há de ser sempre atual!...

 

Num tempo como o que se vive, percorrer “as solidões da Natureza, sem vozes humanas, sem discursos, boatos, mentiras, calúnias, falsidades, elogios, celebrações…” é ir de encontro a uma paz consistente, autêntica. É essa paz que o Alemão tem perseguido pelos caminhos da sua escolha de sempre: silêncio e solidão. Mesmo que muitos não tenham ainda entendido!...

 

“Hoje eu queria apenas ver uma flor abrir-se, desmanchar-se… “




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