HISTÓRIA Nº.
58
Acoste o seu
barquinho...
A parcialidade em tanta informação. A opinião pessoal que pretendem inculcar no outro como sendo A
Verdade, a única. A crítica tendenciosa. A insinuação habilidosa, perversa. A história deliberadamente
mal contada, distorcida. O descontrolo emocional na discussão da dama que se
defende. A desfocagem do que é essencial. E muito, muito mais, a nausear o dia
a dia do Alemão. Toda esta desinformação, que despreza, obriga-o a
navegar à vista. Junto à costa, que já não é tempo de enfrentar o mar alto. Talvez
seja até o momento de acostar definitivamente … Oxalá, em algum porto seguro!
A este propósito, o Alemão
lembrou-se dos conselhos que, em ocasiões de confusão no passado, recebia de
uma ilustríssima senhora, infelizmente já desaparecida, e em que pontificava
esta imagem: “acoste o seu barquinho por um tempo”. O olhar arguto da
amiga Conceição, assim se chamava, percebia que o mar estava excessivamente ocupado
por embarcações de maior porte e que, do alto das suas amuradas,
desprezavam os simples e fracos “caíques” a quem disputavam o espaço. O perigo
não vinha do mar em si mesmo, mas sim das manobras dos grandes. Que
partiam logo que atingidos os seus objetivos. Com o regresso da calma lá vinha
o conselho libertador: “faça-se de novo ao mar, mas vá sempre junto à costa…”
Até ao próximo retiro, concluía o Alemão. E foram muitos ao longo dos
anos.
De retiro em
retiro o Alemão tem sobrevivido. Atentamente, tem mareado por onde nem
sempre vê observadas as regras de segurança por todos os que com ele se
cruzam. O “caíque” é velho, mas ainda flutua. Remada após remada, em lento
avanço que evidencia já muito cansaço, navegando junto à costa, lá vai cumprindo
a sua vida. Como lhe é permitido. Dentro do possível, como lhe recomendaram.
Até ao próximo
retiro…
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