sábado, 21 de dezembro de 2019




HISTÓRIA Nº. 57



O mundo é dos espertos…



Mentiras, ofensas, traições, humilhações, desconsiderações, desrespeitos…. Tanta matéria facilmente memorizável e que os seus autores geralmente não lembram. “Fui eu?”, perguntam incrédulos quando interpelados. “Pode lá ser, eu nunca faria uma coisa dessas”, inocentam-se. Memória curta? Consciência cauterizada? Espaço cerebral programado em estranho bloqueio para o que não vale a pena registar?  


O outro, coitado, já quase não existe. Se lhe concedem por momentos a existência, ao outro, algum interesse estará a isso subjacente. Desconfie-se. Existência soluçante, como se o mundo lhe desse, ao outro, apenas um pequeno espaço de aparição, de tempos a tempos. Para ser gente, pois então, mas sem protagonismos. É que o papel principal já tem dono…


Ontem, quando regressava a casa de mais uma viagem a Lisboa com o meu amigo de muitos e muitos quilómetros, através da visibilidade reduzida que a chuva abundante e persistente da Elsa provocava no para-brisas, o Alemão vislumbrou, mais uma vez, um dos lados mais negros e mais lamentáveis da vida: o egoísmo. Trezentos e poucos quilómetros de caminho deram-lhe algum tempo para referenciar muito do que não deveria acontecer em sociedades que se autoproclamam justas e preocupadas com o outro. Palavras, muitas palavras, mas só palavras… Os sofrimentos, esses, eternizam-se. “Só acontece aos vivos”, pareceu-me ouvir o amigo Alfredo cujo verbum realista e sempre oportuno recordo inúmeras vezes…  


Realmente, o mundo é dos espertos…



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