HISTÓRIA Nº. 49
Uma flor para todos os “outros” …
“Daqueles tempos tenho apenas memórias
cinzentas”, disse a simpática senhora para alguém a seu lado, enquanto
servia o cimbalino despertador ao Alemão. Em português correto, mas com
sotaque. Deu para perceber que falava dos anos 80 do século passado e sobre uma
região distante, possivelmente a terra onde nasceu. Tom de voz calmo, mesmo
doce, revelador de um conformismo próprio de quem acha ter nascido para sofrer
e, por isso, sem a possibilidade de evitar as dores e mais dores que lhe
acinzentaram a vida. Terminado o cimbalino da manhã, o Alemão saiu do
pequeno recinto pensativo. O conhecimento da História recente levou-o ao
lugar onde ocorreram os fatos sugeridos e que marcaram indelevelmente a vida
daquela angélica criatura. Passaram-se já muitos anos. Com eles tanta
modificação no mundo. Quem infligiu aqueles sofrimentos na sua maioria já não
existe. E os que ainda existam, saíram de cena incógnitos e possivelmente vivendo
o resto dos seus dias tranquilamente. Tranquilamente?!...
Memórias
cinzentas, expressão que emocionou o Alemão
e o levou a recuar até alguns momentos-situações que gostaria de nunca mais lembrar.
Não conseguiu, porém, impedir tais recordações. Foi-lhe impossível não ver
algumas figuras que marcaram pela negativa a sua vida. Uma boa parte já nem vive.
Paz à sua alma! Outra, inteligentemente e antes que as coisas se complicassem, afastou-se dos palcos que tanto
frequentou, “saindo de fininho”, para
viver o resto dos seus dias tranquilamente. Tranquilamente?!...
Outra, resistente, ainda pulula por aí exibindo-se como portadora de uma
moralidade inatacável que a faz viver em paz. Em paz?!...
Impressionante
como o egoísta usa a interlocução do “outro”.
Este somente existe para dar cumprimento a ambições e projetos cuja
concretização interessa apenas àquele. Tem sempre razão, está sempre certo, o
egoísta. A água tem de correr sempre na sua direção, única direção. E o que não
der certo há de ser sempre por culpa do “outro”.
Memórias
cinzentas, bruma espessa que somente uma Luz Poderosa atravessa de modo a fazer
o Alemão compreender porque é que o
passado ainda dói, mas não o impediu de caminhar até ao dia de hoje. “Se o Deus de meu pai, o Deus de Abraão, e o
temor de Isaque não fora comigo, por certo me enviarias agora vazio”
(Genesis, 31).
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