HISTÓRIA Nº. 48
Passeios pelo campo…
Terá morrido de
pé como todas as árvores. Nogueira centenária, enorme e majestosa, sobressaía dominadora
do meio de um vasto campo que sempre pareceu abandonado e que confrontava com um
caminho de cabras (pelos montes não
faltam caminhos!) que levava a Poiares. Uma espécie de necessidade de afirmar
a sua pequenez confrontando-a com aquele gigante da natureza habituou o Alemão a uma diária peregrinação, quase
religiosa, sempre que por ali andava. Mas já não existe, aquela que foi grande.
Removeram-na, reduzindo-a, certamente, a pedaços facilmente transportáveis,
deixando apenas sepultado algum pedaço das suas raízes mais profundas... que
nunca mais brotarão da terra. Levaram a imponência que enchia o quadro daquela
paisagem duriense. Única. Aquele caminho já não é a mesma coisa…
A peregrinação
tinha outros santuários: os cardenhos de xisto que o Alemão conheceu, desde sempre, abandonados, cobertos por silvas
(amoreiras-silvestres) carregadas de generosos frutos que, muitas vezes, terminavam
em açucaradas sobremesas. De vez em quando, como que agradecidos pela única
visita que ainda recebiam, punham a descoberto alguma relíquia que, assim,
poupavam ao eterno esquecimento: alguma chave enorme, enferrujada, escondida
por entre as pedras junto à fechadura e que alguém ali deixou ao sair pela
última vez…; ou alguma lamparina oxidada, esquecida da sua última luz… Mas,
verdadeiramente inesquecível, o silêncio quase absoluto sobre aquele campo
sagrado, que nem os sardões, lagartixas, coelhos bravos, lebres e tantos outros
seres daquela riquíssima biodiversidade ousavam perturbar.
De longe a longe,
um “bom-dia lhe dê Deus” da boca de
alguém cujo rosto se escondia no meio
do molho de lenha acabada de apanhar num dos montes vizinhos e que, pendendo
para todos os lados, quase lhe cobria os pés. “Obrigado, Deus abençoe”, retribuía o Alemão evitando referir o género (seria homem?... Seria mulher?...),
olhando com admiração o trajeto-movimento daquela criatura que, sem queixumes, carregava
tão grande e pesado fardo. E que ainda falava de Deus!...
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