HISTÓRIA Nº- 35
A saudade do regresso…
Setembro chegou.
Para o Alemão, o Mês dos meses.
Quente como todos os setembros que recorda. E são muitos. Foi sempre o seu mês
de férias escolhido até que circunstâncias diversas e imperativas lhe
prejudicaram essa preferência. Desde então tem perdido, ano após ano, o mais
maravilhoso espetáculo da época: as vindimas.
Terceira classe,
com direito a confortáveis bancos de
madeira, a viagem no ronceiro e já velho comboio até à Régua era uma agitada,
mas deliciosa, aventura. A arrumação dos passageiros e das suas intermináveis e
inenarráveis bagagens só se conseguia com a ajuda dos solavancos da traquitana
em movimento. E havia animação. Em cada estação e apeadeiro (tantas paragens,
meu Deus!...) não faltava o assédio gritado da venda direta “olh’ó o rebuçado da Régua” e “água fresquinha, quem quer água fresquinha?
“ a provocar duras negociações
entre compradores e vendedores. Nada que alguns tostões, poucos, não
resolvessem… E porque a viagem era longa, uma espécie de serviço de bar à moda antiga abria logo à partida com a promessa de
assim permanecer até à chegada. Condessas
de verga alargavam generosa e gratuitamente as suas abas exibindo com
orgulho uma variada gama de possibilidades gastronómicas. Sem faltar o fiel companheiro que dá de comer a um milhão de
portugueses…
O fumo negro saído
da máquina enfarruscava o mais atrevido passageiro. De vez em quando, os apitos
histriónicos da locomotiva abriam caminho através da paisagem da região. Imponentes
solares, vinhedos inconfundíveis… e, a partir de certa altura, a companhia
constante do Rio Douro até à estação do Peso da Régua. Que não era, ainda, o
fim da viagem. Essa terminaria algumas horas mais tarde, depois de percorridos
13 quilómetros por estrada rodoviária cheia de curvas e mais curvas, ao longo
de uma das encostas durienses que levam até Vila Seca de Poiares. Dura subida
que a velha carreira conhecia de cor
e que cumpria já com sacrifício.
No ponto mais
largo da aldeia a multidão regozijava: a
cidade, acabava de chegar… Um ano depois da partida com lágrimas de
tristeza, o regresso, também com lágrimas… mas de alegria.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.