quarta-feira, 5 de setembro de 2018







HISTÓRIA Nº- 35



A saudade do regresso…



Setembro chegou. Para o Alemão, o Mês dos meses. Quente como todos os setembros que recorda. E são muitos. Foi sempre o seu mês de férias escolhido até que circunstâncias diversas e imperativas lhe prejudicaram essa preferência. Desde então tem perdido, ano após ano, o mais maravilhoso espetáculo da época: as vindimas. 


Terceira classe, com direito a confortáveis bancos de madeira, a viagem no ronceiro e já velho comboio até à Régua era uma agitada, mas deliciosa, aventura. A arrumação dos passageiros e das suas intermináveis e inenarráveis bagagens só se conseguia com a ajuda dos solavancos da traquitana em movimento. E havia animação. Em cada estação e apeadeiro (tantas paragens, meu Deus!...) não faltava o assédio gritado da venda direta “olh’ó o rebuçado da Régua” e “água fresquinha, quem quer água fresquinha? “ a provocar duras negociações entre compradores e vendedores. Nada que alguns tostões, poucos, não resolvessem… E porque a viagem era longa, uma espécie de serviço de bar à moda antiga abria logo à partida com a promessa de assim permanecer até à chegada. Condessas de verga alargavam generosa e gratuitamente as suas abas exibindo com orgulho uma variada gama de possibilidades gastronómicas. Sem faltar o fiel companheiro que dá de comer a um milhão de portugueses…


O fumo negro saído da máquina enfarruscava o mais atrevido passageiro. De vez em quando, os apitos histriónicos da locomotiva abriam caminho através da paisagem da região. Imponentes solares, vinhedos inconfundíveis… e, a partir de certa altura, a companhia constante do Rio Douro até à estação do Peso da Régua. Que não era, ainda, o fim da viagem. Essa terminaria algumas horas mais tarde, depois de percorridos 13 quilómetros por estrada rodoviária cheia de curvas e mais curvas, ao longo de uma das encostas durienses que levam até Vila Seca de Poiares. Dura subida que a velha carreira conhecia de cor e que cumpria já com sacrifício.


No ponto mais largo da aldeia a multidão regozijava: a cidade, acabava de chegar… Um ano depois da partida com lágrimas de tristeza, o regresso, também com lágrimas… mas de alegria. 




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