quinta-feira, 20 de setembro de 2018







HISTÓRIA SEM NÚMERO (…)



A celebração…



Sonhador, desde a adolescência. Como sonhou! Encontrava no sono os sonhos com que projetava a vida. Reconhece que, anos a fio, dormiu para sonhar. “Eles não sabem que o sonho é tela, é cor, é pincel. Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida. Eles não sabem nem sonham que o sonho comanda a vida.” (Pedra Filosofal, de António Gedeão).


O Alemão adora aquele monumento poético com o qual já concordou. Até que, num dado momento perdido no tempo, percebeu que não é o sonho que comanda, embora sendo uma constante da vida. Ilusões e mais ilusões foram tela, cor e pincel de uma obra que nunca apareceu... Há muito que o Alemão já não dorme para não sonhar. A vida é o que é ou o que tiver que ser. Frustrações, desgostos, contrariedades, desilusões, perdas. Mas também alegrias, muitas alegrias. A vida está na mão de Deus.


Neste dia que é mais um marco da sua História (esta sem número…), o Alemão olha o quadro que, fora dos sonhos, reproduz o seu Hoje depois de um já muito longo Ontem. Acima, a progenitora quase centenária. Ao lado, a mulher sofrida, mas valente, decidida, companheira fiel e leal há mais de 40 anos. A seguir, os três bons filhos. Depois, os quatro maravilhosos netos. Todos Lísias, filhos e netos. Lindos! E as noras queridas. Como a realidade superou o sonho que nunca tal favor Divino projetou! Neste seu dia, o Alemão celebra a Família.


O Alemão não esquece, também, os amigos. Sempre presentes nas horas boas e más. Com carinhosos gestos de apoio, com boas e sentidas palavras e, sobretudo, com a manifestação inequívoca dos seus mais nobres sentimentos, comandaram o comportamento do Alemão em muitos momentos da sua vida. Por isso, neste seu dia, o Alemão celebra também os seus amigos.



21. Setembro.2018





quarta-feira, 5 de setembro de 2018







HISTÓRIA Nº- 35



A saudade do regresso…



Setembro chegou. Para o Alemão, o Mês dos meses. Quente como todos os setembros que recorda. E são muitos. Foi sempre o seu mês de férias escolhido até que circunstâncias diversas e imperativas lhe prejudicaram essa preferência. Desde então tem perdido, ano após ano, o mais maravilhoso espetáculo da época: as vindimas. 


Terceira classe, com direito a confortáveis bancos de madeira, a viagem no ronceiro e já velho comboio até à Régua era uma agitada, mas deliciosa, aventura. A arrumação dos passageiros e das suas intermináveis e inenarráveis bagagens só se conseguia com a ajuda dos solavancos da traquitana em movimento. E havia animação. Em cada estação e apeadeiro (tantas paragens, meu Deus!...) não faltava o assédio gritado da venda direta “olh’ó o rebuçado da Régua” e “água fresquinha, quem quer água fresquinha? “ a provocar duras negociações entre compradores e vendedores. Nada que alguns tostões, poucos, não resolvessem… E porque a viagem era longa, uma espécie de serviço de bar à moda antiga abria logo à partida com a promessa de assim permanecer até à chegada. Condessas de verga alargavam generosa e gratuitamente as suas abas exibindo com orgulho uma variada gama de possibilidades gastronómicas. Sem faltar o fiel companheiro que dá de comer a um milhão de portugueses…


O fumo negro saído da máquina enfarruscava o mais atrevido passageiro. De vez em quando, os apitos histriónicos da locomotiva abriam caminho através da paisagem da região. Imponentes solares, vinhedos inconfundíveis… e, a partir de certa altura, a companhia constante do Rio Douro até à estação do Peso da Régua. Que não era, ainda, o fim da viagem. Essa terminaria algumas horas mais tarde, depois de percorridos 13 quilómetros por estrada rodoviária cheia de curvas e mais curvas, ao longo de uma das encostas durienses que levam até Vila Seca de Poiares. Dura subida que a velha carreira conhecia de cor e que cumpria já com sacrifício.


No ponto mais largo da aldeia a multidão regozijava: a cidade, acabava de chegar… Um ano depois da partida com lágrimas de tristeza, o regresso, também com lágrimas… mas de alegria.