sábado, 10 de junho de 2017



HISTÓRIA Nº. 1


A faneca da pedra… 


Sempre que como fanecas, com o inevitável arrozinho de tomate a fugir do prato, lembro-me do tio Zé Allen e da sua recomendação a propósito: a da pedra é a melhor. Era um especialista em fanecas, ou não fora por uma vida inteira um frequentador das águas frias do Molhe (Foz do Douro), onde, ao largo e junto a uns velhos rochedos conhecidos, pescava regularmente tão delicioso espécimen. Por vezes, com amigos de aventuras, mesmo mal-amanhadas, cozinhava-as dentro do próprio barquinho, ainda meio vivas, usando uma pequena sertã aquecida por uma saudosa máquina a petróleo. Outras vezes, quando a pesca o justificava, subia à cidade, ao centro, batia-me à porta e, de saco de plástico na mão, entrando dizia-me com a sua voz arroucada mas agradável, carregando nos “erres”, pronúncia nele natural desde a infância: “faneca da pedrra lembrra-me o doutorre, meu sobrrinho”.
Nunca lhe perguntei o porquê do seu parecer: a faneca da pedra é a melhor. A verdade, porém, é que, não sabendo distinguir, não deixo nunca de investigar quando me servem o saboroso peixe: é faneca da pedra?...

O tio Zé Allen era uma figura cheia de histórias, sobretudo ligadas ao mar da Foz do Douro. O título do meu blog é, antes de tudo, uma homenagem a um homem que me cativou desde que o conheci, no último quartel do século passado. É, ainda, sob o tema de histórias, uma porta que me abro para a possibilidade de contar-vos, amigos, algumas lembranças que os anos já vividos começam a exigir-me.


Depois da faneca da pedra outras histórias virão.


1 comentário:

  1. Muito obrigado pela recordação do meu pai. A pesca ao largo, nos domingos de verão, era um dos seus passatempos favoritos. Com a costa rochosa da Foz do Douro, possivelmente toda a faneca é "faneca da pedra". Muitas vezes apanhava também outras espécies. Nunca comi peixe tão fresco como nos almoços daqueles domingos.

    Iniciou o neto na pesca e a mim em criança desfez-me o sonho de uma carreira na marinha mercante. Contrariamente à sua boa convivência com o mar, eu enjoava mesmo. Mas até acabei por fazer o serviço militar na Armada. Apesar de apenas duas semanas de instrução embarcado e missão na "nau de pedra", ficou cheio de orgulho.

    Bem haja a recordação do passado. Não como mero saudosismo, mas como forma de partilha e de exemplos que sirvam de aprendizagem para os mais novos. Parabéns pelo blog de J. Alberto Allen.

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