HISTÓRIA Nº. 3
A Lei
do Retorno...
Meados do século
passado. Fim de um verão. Setembro, quarta-feira, 8,00 horas da manhã. Nasceu
robusto, loiro, olhos azuis, criança imponente a quem, na maternidade, chamaram
de “Alemão”. “Não, não o reconheço”, declarou
alguém incomodado com a pressão do momento. “Fique
como filho de pai incógnito que fica bem”, respondendo, ainda, desta forma
a quem, inconformado, lhe pedia “ao menos
o seu sobrenome”. “Não, não”,
repetiu, afastando-se, mas não o bastante para que não ouvisse, ameaçadora, a
marcação de um qualquer encontro no futuro: “Oxalá
não venha alguma vez a precisar do Alemão” …
Alguém
profetizou, entretanto, que Deus seria o pai do “Alemão”. E assim foi. E assim
tem sido.
Quinze anos mais
tarde. Domingo de sol, curiosamente cerca das 8,00 da manhã, preparado para
mais uma caminhada desde as Taipas até ao Bonjardim, quase Marquês, para a
Escola Dominical. Na porta da rua, o “Alemão”,
que já não era loiro, reconheceu quem lá atrás se recusou a reconhecê-lo. Olhando
incrédulo para aquele ser – desmazelado,
barba crescida, ar de pobreza – ouviu a sua voz, pela primeira vez, a pedir-lhe:
“Alemão, não tens nada que me possas
dar?”. Tinha sim, o “Alemão” tinha
num dos bolsos do casaquito uma moeda de vinte e cinco tostões que a mãe lhe
dera para entregar na Igreja, na coleta. Deus haveria de perdoar o desvio. Deu-lha sem qualquer tipo de
hesitação. De imediato, aquela figura desapareceu como tinha aparecido. Sem qualquer
gesto a não ser o descrito…
Poucos dias
depois, o “Alemão” soube que o seu
reconhecido fora hospitalizado. Problema grave, irreversível. Visitou-o, estava
já inconsciente. Morreu pouco depois de um prolongado suspiro. Alguém lhe
falara ao ouvido, segundos antes de partir: “O
seu filho está aqui”. Terá reconhecido, finalmente, o “Alemão”?!...
Aos pés da cama,
olhando aquela figura jacente, pensava o “Alemão”:
o preço a pagar por determinadas situações da vida é, por vezes, muito alto. Mesmo quando, visivelmente, só custa vinte e
cinco tostões…
A Lei do Retorno
é implacável.
Implacável mesmo!
ResponderEliminarNunca façamos aos outros, o que não gostaríamos que nos fizessem...
Então vem a "vida" e encarrega-se de dar a cada um, a sua justa medida.
Abraço amigo