terça-feira, 13 de junho de 2017




HISTÓRIA Nº. 3


A Lei do Retorno...


Meados do século passado. Fim de um verão. Setembro, quarta-feira, 8,00 horas da manhã. Nasceu robusto, loiro, olhos azuis, criança imponente a quem, na maternidade, chamaram de “Alemão”. “Não, não o reconheço”, declarou alguém incomodado com a pressão do momento. “Fique como filho de pai incógnito que fica bem”, respondendo, ainda, desta forma a quem, inconformado, lhe pedia “ao menos o seu sobrenome”. “Não, não”, repetiu, afastando-se, mas não o bastante para que não ouvisse, ameaçadora, a marcação de um qualquer encontro no futuro: “Oxalá não venha alguma vez a precisar do Alemão” …

Alguém profetizou, entretanto, que Deus seria o pai do “Alemão”. E assim foi. E assim tem sido.

Quinze anos mais tarde. Domingo de sol, curiosamente cerca das 8,00 da manhã, preparado para mais uma caminhada desde as Taipas até ao Bonjardim, quase Marquês, para a Escola Dominical. Na porta da rua, o “Alemão”, que já não era loiro, reconheceu quem lá atrás se recusou a reconhecê-lo. Olhando incrédulo para aquele ser –  desmazelado, barba crescida, ar de pobreza – ouviu a sua voz, pela primeira vez, a pedir-lhe: “Alemão, não tens nada que me possas dar?”.  Tinha sim, o “Alemão” tinha num dos bolsos do casaquito uma moeda de vinte e cinco tostões que a mãe lhe dera para entregar na Igreja, na coleta. Deus haveria de perdoar o desvio. Deu-lha sem qualquer tipo de hesitação. De imediato, aquela figura desapareceu como tinha aparecido. Sem qualquer gesto a não ser o descrito…

Poucos dias depois, o “Alemão” soube que o seu reconhecido fora hospitalizado. Problema grave, irreversível. Visitou-o, estava já inconsciente. Morreu pouco depois de um prolongado suspiro. Alguém lhe falara ao ouvido, segundos antes de partir: “O seu filho está aqui”. Terá reconhecido, finalmente, o “Alemão”?!...

Aos pés da cama, olhando aquela figura jacente, pensava o “Alemão”: o preço a pagar por determinadas situações da vida é, por vezes, muito altoMesmo quando, visivelmente, só custa vinte e cinco tostões…

A Lei do Retorno é implacável.




1 comentário:

  1. Implacável mesmo!
    Nunca façamos aos outros, o que não gostaríamos que nos fizessem...
    Então vem a "vida" e encarrega-se de dar a cada um, a sua justa medida.
    Abraço amigo

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