HISTÓRIA Nº. 94
“É sabido que na infância o tempo não passa, na
adolescência demora-se, na idade adulta corre, na velhice precipita-se.”
Rosa Lobato de Faria
Cada tempo
vivido foi deixando sinais da sua passagem. Descuidadas cicatrizes, mais leves
umas, mais fundas e bem visíveis outras, mas todas indeléveis. “Marcas da vida em relevo”, como bem lhes
chamou um amigo de longa data, realçando a dureza de tempos não muito distantes
e valorizando a força revelada nas lutas então travadas, nem sempre vencidas. Testemunhos
verdadeiros de ferimentos entretanto curados. Será que o tempo cura tudo?...
Toda a viagem
tem um começo, meio e fim. O Alemão procura discretamente posicionar-se. Vai conferindo atentamente o que o rodeia para melhor caraterizar o
momento que vive e, por via disso, considerar ou desconsiderar novas lutas,
novos esforços. As cicatrizes desenhadas no seu ser são, na sua maioria, marcas
das suas vitórias, das vitórias que Deus lhe concedeu. Arriscar mais
cicatrizes, valerá a pena? Num mundo que já pouco ou nada lhe diz haverá ainda
espaço para novas conquistas? Acredita que não...
O Alemão,
por quem alguém ainda vai perguntando, percebendo como o tempo se precipita, não
resiste a transcrever, com a devida vénia, um poema de Mário Quintana sobre a
brevidade da vida:
“A vida é uns
deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já
são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é
6ª. Feira…
Quando se vê,
passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais
para ser reprovado…
E se me dessem -um
dia- uma outra oportunidade,
eu nem olhava o
relógio
seguia sempre em
frente…
E iria jogando
pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.”
Parece uma
renúncia, uma desistência, mas não é, garante o Alemão. Não se desiste
do que se ama. Será, quando muito, um reposicionamento face ao “tempo que se
precipita” e ao que ainda deseja fazer, se Deus o ajudar: o avivamento da
sua galeria de notáveis onde “nunca ninguém morre, só quem nós matamos na
memória, no pensamento e no coração” – Rosa Lobato de Faria.