quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019




HISTÓRIA Nº. 44
 


Valha-nos Deus!...



Posto em sossego, o Alemão preparava-se para consumir mais um dia. Uma quarta-feira de fevereiro, do ano da graça de 2019. Da varanda do seu escritório doméstico observava as caretas que o tempo fazia, a fim de decidir sobre os artefactos que devia, ou não, levar consigo quando, pouco depois, saísse para a rua. E pensava, pensava muito até à dor de cabeça, sobre o momento atual da humanidade. Em sua modesta opinião, acha que o egotismo se tornou cada vez mais o grande suporte da prática de atitudes em que os mais poderosos desprezam e, no limite, anulam os mais fracos, reduzindo-os a uma verdadeira inexistência visível aos olhos de toda a gente. Que pouco ou nada faz, cúmplice de desigualdades cada vez mais acentuadas. A todos os níveis. Para onde caminha o mundo?


Há gente que não existe, ou quase. Porque não lho permitem. E quando existe, existe somente para aproveitamento dos outros. Sempre que a estes convém. Lamentavelmente, em jeito de põe e dispõe, os poderosos deste mundo lá se vão movimentando, tirando partido de um abusivo autoritarismo apenas consentido e suportado pelos mais fracos como preço da paz. E como fica cara, essa paz!...


De repente, o toque eletrónico de uma mensagem acabada de chegar interrompeu os seus pensamentos. Dizia: “Uma fraquezazita para Deus não é nada quando comparada com o maquiavelismo que certas pessoas têm no coração, só que como o que se sente não se vê nem se ouve, alguns seres humanos dissimulados passam por maravilhosas pessoas!..”


Maquiavelismo e dissimulação. Duas faces de uma mesma moeda. Males que vão empurrando o mundo para lugares cada vez mais escorregadios.... Afinal, não é só o Alemão que, desde há algum tempo, tem pensamentos pessimistas. A amiga da mensagem, otimista por natureza, já não anda longe…



Valha-nos Deus!





quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019







HISTÓRIA Nº. 43



Ver, ouvir e calar…



Que desilusão! O mundo do Alemão transformado num imenso parlatório, confuso, sem regras. Que grande algazarra!  Todos falam, simultaneamente. Ninguém ouve ninguém. Palavras e mais palavras. Com peso, mas não previamente pesadas. O importante é falar. O outro – sobra sempre um ouvidor! -, é simplesmente… o outro. Que ouve e cala. Que sofre. O importante, pelo visto, é o alívio de quem diz o que quer, como quer e quando quer, sem medir consequências. Tempo estranho, este, em que todos sabem do que falam!... Saberão?!...


“Casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão”, lembra-nos a vox populi, sempre atual. Ultimamente, do nada brotou um descontentamento descontente, inexplicável, doentio, irritante, com afetações negativas no comportamento de muitos. Lamentavelmente, despreza-se, agora, o que durante muito tempo da vida foi verdadeiramente essencial. Outras prioridades ou preferências se afirmaram no painel indicativo dos objetivos pessoais. Pena que a sua concretização conduza, inevitavelmente, a um outro mundo. Que já está por aí...


Observador e ouvidor, o Alemão percebe a inquieta movimentação do mundo que chama “seu” e de que tanto se orgulhou através dos anos da sua já longa vida. Vê, ouve e cala. Não porque tenha perdido a voz, não. Mas porque aprendeu que, como dizia um sábio popular do século passado, “em boca que cala não entra mosquito”.  E há tempos em que, perante os sabe-tudo da vida, o silêncio é a melhor atitude.