HISTÓRIA Nº.
65
Sem aviso de
recepção…
Domingo, manhã
cedo. Temperatura amena, saborosa, depois do sofrimento causado pelo imenso
calor dos últimos dias. Uma volta ao quarteirão para o habitual café
despertador. Não mais do que essa pequena caminhada, que a vontade de circular
pela cidade não é muita. Para além de desaconselhada. Observa o vazio urbano.
Falta a alegria, a paz, a tranquilidade e o ânimo de muitos domingos do
passado. Do passado longínquo, sim,
porque o Alemão já é idoso. E de repente, por falar nisto, a lembrança
do movimento entusiasmante de crianças e jovens, muitos, subindo a Rua de S.
Roque da Lameira, aos domingos de outras eras, pela manhã...
Agora, a
amargura da descoberta do não saber nada, quando se achava conhecer já o
suficiente, pelo menos. Agora, o medo de avançar por um caminho que parecia
definitivamente aberto, mas que nestes últimos tempos se revelou impenetrável
ou, no mínimo, inseguro. Agora, a estranha hesitação em enfrentar, sem exército
e sem armas eficazes que o tempo enferrujou, uma força tão estranha quanto
poderosa. Agora, a torturante dúvida sobre tudo o que se tinha como certo e,
por isso, projetado no futuro. Agora, a ausência de soluções tão reveladora da
incapacidade humana. Que desolação!
O Alemão anda
triste. Os amigos conhecem-no, pelo que esta confissão acaba por ser uma
redundância. E está triste porque percebe que os seus bons amigos também
estão e não sabe o que fazer por eles… A
não ser, em jeito de carteiro à antiga portuguesa, depositar nas suas
caixas do correio uma mensagem milenar que todos conhecem. Afinal, é só
lembrar: ” O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã!”
Sem aviso de
recepção…