sexta-feira, 20 de setembro de 2019







HISTÓRIA Nº. 52



Agradecimento sentido…



Porto, meados do século passado. Setembro, fim de verão, quarta-feira 21, 8,00 da manhã. Nascia o Alemão. Começava, então, a sua aventura de viver. E viveu tanto que tem dificuldade em eleger, entre o bom e o mau, o que mais o terá marcado ao longo das dezenas de anos que lhe pesam nos ombros!


Hoje, uma dolorosa nostalgia perpassa-lhe a alma. Passou muito tempo. Tempo demais. E já não é cedo. Pelo contrário, é tarde, muito tarde. E tanto vai ficar por fazer!...


As zero horas do dia que lhe arredondará a contagem da vida chegarão em plena estrada entre Lisboa e o Porto, no regresso de mais uma missão. Junto, como sempre, o leal amigo de muitos quilómetros Carlos Figueiroa. Em casa, madrugada dentro, aguarda-o a primeira celebração do dia imposta pela necessidade de uma simples ceia.


O Alemão quis, desta forma simples e apressada, antecipar-se aos amigos. Já teve muitos. Alguns perdeu-os sem saber porquê, embora a todos quisesse manter por toda a vida. Mas muitos outros têm estado sempre por perto. A estes, aos sinceros, o agradecimento sentido do Alemão. Por serem seus amigos.


21.Setembro.2019





domingo, 8 de setembro de 2019








HISTÓRIA Nº. 51



Dói por ser saudade…



O Alemão envelheceu. Parou de viver... ou para viver, finalmente. Sentado num desconfortável banco de um imposto conformismo, assiste, agora, ao passar do tempo, castigado, ainda, por um sol que lhe não é saudável nem desejável. As sombras, essas, estão todas tomadas por quem ainda pode circular. Egoísmos! Cansado de uma vida de curvas e de contracurvas. Condução desgastante por caminhos secundários. Que as autoestradas da vida não são para todos! Por isso as não conheceu. Que estranha sensação de uma vida desaproveitada… ou que alguém aproveitou!


Para o Alemão nem sempre é doentio o mergulhar no passado, no seu passado. Quer se queira quer não, ele sempre estará presente, quanto mais não seja naquilo a que se chegou. A semente é o começo… E há dias em que revisitar alguns dos que já se foram é como que beber um tonificante que permite sobreviver numa época tão estranha como a atual.


Na galeria virtual dos retratos que conserva algures dentro de si, o Alemão revê a imagem de gente que circulou por estradas bem piores que aquelas e viveu sem sombras protetoras, ano após ano, castigada por um sol violento, injusto, inclemente. Fotos a preto e branco de homens e mulheres que, apesar de tudo o que sofreram, faziam questão de ser exemplares na sua entrega à vida que amaram. Que conforto na observação de cada rosto onde pontifica, comum a todos, um porte firme e um doce e tranquilo sorriso! Não é fotogenia resultante de “olh’ó passarinho”, não. É a pura expressão da felicidade sentida por cada um deles. O Alemão conheceu-os e sabe qual a razão daquela felicidade.


Manhã de domingo. Setembro vinhateiro. Calor pouco habitual. Condimentos de um alimento de saudade que dói por isso mesmo: por ser saudade.