segunda-feira, 31 de dezembro de 2018










HISTÓRIA Nº. 40




Até amanhã, se Deus quiser…




Nunca foi de muitas falas. Talvez por isso a impressão de permanente ausência. A sua liberdade de expressão, tão pouco utilizada, acresceu muito espaço à liberdade de expressão de outros que têm sempre muito a dizer e a perguntar. “O Alemão está por aí?”, a dúvida suscitada pelo seu silêncio. Estava. Sempre. Aliás, nunca deixou de estar. E de ver e perceber tudo à sua volta. Ontem como hoje. A idade ainda não prejudicou.


Os últimos tempos têm confirmado um mundo completamente ao contrário. De novo. Repete-se o ambiente milenar descrito em Eclesiastes, cap. 10; “Vi os servos a cavalo e os príncipes que andavam a pé como servos sobre a terra”. A perversão, inversão e destruição dos bons valores que ordenaram a vida ao longo de muitas gerações preocupa grandemente o Alemão. Futuro sombrio, prevê.


“Renove-se a esperança”, exortam os mais otimistas. “O amanhã trará tempos melhores”, profetizam os mais confiantes. E de mensagem em mensagem sustenta-se o adiamento da chegada daquilo que se espera… E o que será!?...  


Bom, assim como assim, esperemos… Até amanhã, se Deus quiser!






sexta-feira, 7 de dezembro de 2018











HISTÓRIA Nº. 39



Não adianta...



A propósito do título, contava o sábio José Nascimento, no século passado:

“Era uma vez… no tempo em que os comboios eram puxados por locomotivas a vapor. Inverno, tempo muito frio, carruagem velha, uma das janelas estranhamente baixada (aberta). O passageiro sentado à janela olhava tranquilamente a paisagem. Do exterior entrava um vento gelado e, quando da passagem de algum túnel, um fumo incomodativo provocava uma irritante tossiqueira coletiva. No início da viagem, uma ou outra reclamação, mais ou menos gentil, solicitou o fechamento da janela. Uma resposta serena daquele passageiro garantia: “num dianta”. A viagem prosseguia. À medida que os quilómetros avançavam crescia o tom das reclamações. “Que falta de respeito”, “que pouca vergonha”, “que falta de educação e de consideração”, “feche a janela seu mal-educado”, assim mimavam o homem que, no entender de todos, fazia ouvidos de mercador. Este, serenamente, insistia na resposta: ”num dianta”. A chegada salvadora do revisor trouxe a confiança na colocação da ordem e do respeito que aquela janela provocatoriamente aberta não permitia desde o início da viagem. Pediram a sua intervenção. Que não demorou. Primeiramente delicada: “não se importa de fazer o favor de fechar a janela?”, pediu. A resposta não tardou, também ela delicada, serena: “num dianta”. Perante tal resistência, insistiu o revisor: “Fecha ou não fecha o raio da janela?”, agora em tom encrespado e ameaçador. A resposta, no tom delicado e sereno de sempre, voltou a ser imediata… e igual: “num dianta”. Descontrolado, irado e muito perto de uma apoplexia, o funcionário anunciou: “vamos lá a ver se adianta ou não”, ao mesmo tempo que, curvado sobre o passageiro, pegou nas orelhas de cabedal da janela e a puxou para cima, para a fechar. Surpresa das surpresas: a janela não tinha vidro. O patético silêncio do revisor e dos demais passageiros curvou-se respeitosa e definitivamente perante a expressão sempre dita delicada, verdadeira e serenamente: “Num dianta”.

No momento, tantas situações relativamente às quais não haverá nada a fazer. Pretender corrigi-las é arriscar sofrimento inútil. Um estranhíssimo caos tomou conta do mundo. As palavras que apontam os caminhos da sensatez já não são ouvidas. Qual a solução? O Alemão não sabe qual seja, mas conhece quem a tem… Só Ele pode colocar o vidro na janela… e devolver o conforto a todos os que viajam nesta carruagem. Sobretudo de quem viaja no lugar junto à janela…